terça-feira, 14 de julho de 2015

Uma Rua de Roma

de Patrick Modiano
           
por Ana Luiza Machado

"Um escritor é marcado de forma indelével por sua data de nascimento e por seu tempo, ainda que não tenha participado diretamente da ação política, mesmo que dê a impressão de ser um solitário retirado em sua 'torre de marfim'”,  Fragmento do discurso de premiação do Nobel de Literatura

Patrick Modiano nasceu em 30 de julho de 1945, filho de um judeu de Alexandria e uma belga. Os pais se conheceram durante a ocupação alemã na França e ele foi criado pelos avós e educado em um colégio interno.

Por "Rue des boutiques obscures" ele recebe o Prêmio Goncourt. Em 2014, é agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, pelo conjunto de seu trabalho. O autor sempre foi reconhecido pela crítica, e possui uma produção literária sólida, lançando aproximadamente um livro por ano. No entanto, nunca foi um autor de grandes tiragens, nem  na Franca nem no mundo.
O título original da obra é “A rua das lojinhas obscuras”, a versão brasileira ( Editora Rocco) apresenta o livro como “Uma rua de Roma”, uma vez que La vie delle Bottegne Oscure  efetivamente existe e na década de 1930 integrava um gueto judaico romano.

O personagem principal da trama é um detive, Guy. Narrador e personagem são apenas um. A saga é a busca por seu passado. Essa busca se materializa no livro por meio de uma série de interrogatórios insólitos por meio dos quais o personagem vai tentando reconstruir seu passado e desvendar seu presente: quem de fato ele é?

Uma análise, superficial e baseada apenas nos elementos acima apontados poderia nos induzir a classificar a obra como um romance policial, mas o que ocorre de fato, é que nosso protagonista é um detive “tímido” e a cada vez que se aproxima de uma pista mais sólida, quando seria possível conseguir mais, ele se perde ou não obtém o máximo das informações possíveis.
Nosso detective, se parece muito mais com um paciente no divã,  passeando pelos meandros de sua mente. As rua de paris e seus personagens são fragmentos de memória, as  ligações entre os personagens são tortuosas. Muitas vezes é possível perceber quão suscetível Guy é a falsas pistas. Nesse momentos ele não constrói um quebra, mas apenas atribui ou constrói uma história sobre as frágeis informações que os personagens lhe transmitem.
As ligações entre uma pista e outra são insólitas e muitas vezes o leitor se perde no emaranhado da mente de Guy. A transição entre uma pista e outra, entre um personagem e outro são pouco explicadas, ou pouco lógicas, reforçando a ideia de que passam  em um plano mental.  O aparente anseio de Guy por uma identidade é tao grande que em alguns momentos ele associa  memórias construídas por meio dos relatos a experiências sinestésicas como “a cor verde” e o “cheiro apimentado”. Esses elementos a cor e o cheiro são fluídos e poderiam se encaixar em muitos contextos, aparentemente, são os únicas memórias genuinamente vividas pelo personagem. Essa recuperação da memória através dos sentidos é involuntária ( Proust). Guy, segue as ruas de paris, como em um labirinto, e termina numa idílica ilha no Oceano Pacífico, chega ao fim sem de fato se encontrar.

Para alguns o livro pode ser caracterizado como seco, esquálido, sem grandes atributos , uma vez que o autor conduz a trama sem nos permitir aprofundar em nenhum personagem. Os personagens são todos unidimensionais, sem profundidade, são como fotografias. Não sabemos sobre seus sentimentos ou pensamentos, são apenas imagens desbotadas. No entanto, é justamente nessa aparente deficiência que se pode encontrar a virtude da obra. Por ser tão contido na abordagem dos personagens, o livro nos faz projetar sentimentos e percepções. Essas interpretações nos colocam em posição semelhante a de Guy. Estamos construindo uma versão dos fatos sobre bases frágeis e personagens esmaecidos.
É possível ainda nos questionarmos sobre a questão da memória no mundo atual. A história de Modiano encontra terreno propício em uma Europa fragmentada  e bélica, mas e se a transportássemos para os tempos atuais, seria possível nos perdermos de nós mesmos? Nos tempos atuais, é possível esquecer? E mais, uma sociedade como a nossa, cada vez mais baseada nas imagens, não estaria aos pouco reduzindo nossa "profundidade", nos transformando aos poucos em personagens unidimensionais?



Recomendo o livro, trata-se de uma obra curta e que pode ser um convite para conhecer outras obras do autor. É de se ler numa tacada só.

Um comentário:

  1. UMA RUA DE ROMA
    PATRICK MODIANO

    Uma Rua de Roma é um romance esquálido, banal, sem criatividade . Embora não tenha muitas páginas, a leitura é longa, porque a narrativa é arrastada.
    Poderia ser um livro de suspense, de mistério, mas não desperta a curiosidade do leitor para tanto.
    Os personagens são delineados palidamente.
    O ritmo é lento.
    A narrativa é desestruturada (creio que a intenção do autor com esse artificio seria a de nos levar a acreditar na amnésia do narrador, mas….)
    O escritor não tem um estilo, a impressão que dá é que ele tem dificuldade para se expressar.
    Ambientação: o narrador, detective Gui Roland, pula de um lugar para outro, visitando pessoas diferentes e examinando muitas fotos para tentar descobrir seu passado, mas os ambientes são descritos de maneira pouco interessante.
    O objetivo do livro, para mim não ficou claro.
    Não recomendo. O autor, neste livro, não dá uma pista de porque mereceu o Premio Nobel de 2014.
    Concordo com Ana Luiza: Uma Rua de Roma pode ser um convite para ler outra obra do autor, mas, confesso, não fiquei muito animada....

    ResponderExcluir