terça-feira, 12 de agosto de 2014

A COSTUREIRA E O CANGACEIRO


 

France de Pontes Peebes

Nova Fronteira

por Mônica Dias


Classificação do texto: romance
Tempo em que acontece: século XX de 1928 a 1935
Espaço: sertão de Pernambuco, Recife

Sem dúvida um relato sem igual da ambientação do romance, de forma que é táctil para o leitor toda a aridez de um serão que vem sendo descrito, contado mas que no fundo continua o mesmo desde o inicio dos tempos até pelo menos em 2012 (ano em que eu estive pela última vez na caatinga).

Existe uma riqueza descritiva do ambiente, da caracterização dos personagens. A autora consegue fazer-nos transportar para dentro da historia, para sentir toda aquela frieza da sociedade recifense e tb a caatinga. A dualidade permeia tanto os personagens quanto as circunstâncias que cada um vive. Tudo costurado.

Também antecipa detalhes futuros  penso que com objetivo de prender a atenção do leitor, embora o enredo por si só consegue este objetivo.

Grandes temas:
-       consciência do bem e do mau (nem tudo é só bom ou só mau)
-       mudança das regras sociais
-       força e inconformismo das regras sociais
-       acordos tácitos das relações
-       as escolhas de cada um
-       o local de origem, os laços familiares e o feminino manifesto de forma particularizada de cada uma das irmãs


Recomendo o livro com louvor. 9

Coerência temporal
Insere dados históricos de forma coerente
Personagens
Formação nordestina baseada em valores
Qual delas é a costureira? Tendo em vista que o título original é “A costureira”
Narrativa é uma costura perfeita de pontos amarrados e avesso perfeito
Narrador onisciente do entorno de cada um que descreve (tem liberdade narrativa deste PDV)
Costura determinava o entendimento de cada uma da realidade.

3 comentários:

  1. Nada estimulada pelo título, que não me parece convidar à leitura, comecei a ler "A Costureira e o Cangaceiro". E me surpreendi.
    Como uma boa costureira, a autora "não dá ponto sem nó", e sai costurando todo o enredo, as peças se encaixando com maestria.
    Trata-se de um livro sobre a violência - velada, na cidade, e brutal, na caatinga do cangaço.
    A trajetória das irmãs que, cada uma a seu modo, tentam fugir da miséria das suas vidas, é muito bem descrita, e deixa ao final a pergunta sem resposta: estaria o destino de cada pessoa traçado desde o começo, de tal forma que não se pudesse mudá-lo? Transcrevo esse parágrafo que considero o melhor do livro:
    "Emilia não conseguia imaginar vidas inteiras sendo determinadas por coisas tão grosseiras e vulneráveis como corpos, ou coisas tão impalpáveis como almas. Não podia se convencer de que o seu destino já estivesse traçado desde o começo. Estava acostumada a escolher. Como toda costureira. Até o mais grosseiro e sem graça dos morins podia ser tingido, cortado e costurado para se criar um vestido elegante, desde que se fizessem as escolhas certas. Opções também podiam transformar a mais linda das sedas numa catástrofe. Como as pessoas, cada tecido tem as suas próprias vantagens e limitações. Impossível mudar o caráter de um tecido".
    Recomendo a leitura. É muito bom.

    ResponderExcluir
  2. Já eu fui atraído pelo título, que remetia ao regionalismo nordestino. Excelente livro, será alvo de um TCC no meu curso de letras. É o renascimento do regionalismo nordestino à altura dos grandes mestres, como José Lins do Rego e Graciliano Ramos. Pena que atualmente está em falta no Brasil. Em breve haverá um filme baseado no livro. Uma curiosidade: como o mercado editorial brasileiro não facilita as coisas para os autores nacionais, esse livro só se tornou possível porque foi publicado em primeiro lugar nos Estados Unidos, em inglês e português. Somente depois disso veio ao Brasil. Vale a pena.

    ResponderExcluir