terça-feira, 10 de junho de 2014

O CENTAURO NO JARDIM


 

Moacyr Scliar

Companhia das Letras

por Mônica Dias

Classificação do texto: policial, romance, suspense, espionagem, ficção científica, biografia, realismo mágico
-Tema central do livro: aceitação da individualidade / padrões de normalidade (física, comportamental, emocional)
-Tempo em que o enredo acontece:  século XX entre 1935 e 1974
-Espaço onde acontece: Brasil – Rio Grande do Sul (Quatro Irmãos, Porto Alegre), Marrocos e São Paulo
-Classificação do narrador - onisciente/onipresente ou narrador/personagem em 1a pessoa?
Guadali – o centauro, filho caçula de Leão e Rosa. Tem um irmão mais velho (Bernardo), e 2 irmãs (Débora e Mina). Família judia. Acaba casando com Tita – uma “centaura”.
-Estrutura da narrativa: o livro começa pelo final num encontro de família. Vem depois desde o nascimento do narrador, descrevendo as fases de desenvolvimento do ser humano, seus desejos, formas de consegui-lo. Vai descrevendo as etapas da vida e, na condição de centauro, como vai lidando para viver os fatos da vida, ou seja, o enamoramento, casamento, constituição de uma família, o pertencimento a grupos de amigos, o trabalho.
-Identificação pessoal com personagens: o Centauro me remete à condição de excepcionalidade, ou seja, como é ser ou estar fora dos padrões estabelecidos vigentes em determinado grupo social, ou sociedade.

-Pergunta central do livro: eu me aceito ou busco mudar a minha natureza para me adequar ao padrão vigente?
-Mensagem subjacente: a busca por aquilo que não se tem
-Highlights pessoais:
quando nada poderia acontecer aparece uma esfinge sexy
até os centauros traem!
-Nota para o livro de 1 a 10: 6

Nasce um centauro, ser vivente do mundo mítico, em uma família simples, de origem judaica, cujos ritos tem forte influência no dia-a-dia dos personagens. A mãe que à princípio permanece muda, em choque, frente ao nascimento de um “monstro”, aos poucos vai estabelecendo o vínculo materno com Guedali. Os pais fazem o pacto de manter o cerceamento da liberdade como forma de manter sob controle a situação do crescimento do centauro, evitando contato com qualquer outro ser humano que não os membros da família.
Após um amor platônico frustrado Guedali decide deixar a clausura do espaço familiar (citação pág, 58).
Percorreu campos, galopando em liberdade, se escondendo durante o dia até deparar-se com um circo. Vira atração principal e ao se envolver com a domadora causa uma confusão. Acaba fugindo novamente indo parar numa estância onde conhece uma “centaura, Tita, com quem acaba se casando.
Vivem na estância até surgir a noticia da existência de um médico no Marrocos que faz cirurgias para eliminar excrescências”(pg. 87). Viajam até o Marrocos, realizam a cirurgia, com sucesso para ambos. Voltam ao Brasil, vão morar em São Paulo e casam-se, segundo rito judaico em Porto Alegre, voltam a São Paulo, tem filhos gêmeos, normais. O casal se distancia, Guedali trai, Tita tem encontros com um centauro que aparece na casa deles e que acaba sendo morto pelos guardas do condomínio em que moravam. Guedali some de casa e vai para Marrocos reencontrar o médico, agora decadente e, lhe pede para reverter a cirurgia para voltar a ser centauro (pg. 160).
...galopar pelos campos... é um apelo ancestral (pg. 163)
Nesta estada no Marrocos acaba descobrindo que o médico possui encarcerada uma esfinge – Lolah (metade mulher e metade leoa), com quem acaba tendo um affair. A esfinge fica enlouquecida com a ausência de Guedali, foge da jaula e adentra a sala de cirurgia destruindo o cavalo que seria implantado em Guedali, fazendo com que seu “protetor” tenha que abatê-la a tiros. O médico descobre o affair culpando Guedali pela desgraça e este resolve voltar ao Brasil.
Retorna para a fazenda em que nasceu e reencontra um bugre que havia encontrado na infância, solicitando ao mesmo que fizesse um ritual para que retornasse a ser centauro (pg. 190) e, neste momento a reza faz chover acabando com a estiagem e salvando a plantação de soja da região. Neste momento vem à cavalo Tita para resgatar Guedali daquele local e retornam à São Paulo.

Um comentário:

  1. O livro retrata o gaúcho Guedali e a busca dele pelo seu espaço no mundo, com as credenciais de centauro (ou homem deformado), e judeu descendente de imigrantes russos.
    O que me chamou a atenção na leitura de "O Centauro no Jardim" foi a credibilidade que o texto transmite- cheguei até a imaginar que o centauro Guedali seria viável. Por isso, me frustrei profundamente ao fim da narrativa, quando o autor dá a versão de Tita: o marido teria nascido apenas com uma deformação e depois um tumor. E lança a dúvida: "Muito bonito, Tita.Mas será mesmo verdade? Serão mesmo de cavalos as marcas na terra do jardim? Não serão de alguém que por ali corre à noite?
    Falo de alguém com corpo de ser humano e até pernas e pés humanos; mas com o jeito peculiar de pisar que imprime ao solo a marca inequívoca do casco. Falo de um centauro, ou no que resta dele. Falo em Guedali, Tita."
    O enredo chama a atenção pelas coincidências- nada acontece por acaso, tudo se encaixa em determinado momento. Como a moça nua que Guedali no início do livro admirava de longe, por telescópio, e que aparece ao final, no mesmo restaurante tunisino do começo. E que seria irmã da domadora de circo por quem Guedali se apaixonou no decorrer da historia...
    O realismo mágico de Scliar tem narrativa ágil, com muito uso de pontos de interrogação no texto. É um livro fascinante, que recomendo sem restrições.

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