de Daniel Khelman
por João Maria
Fama é um livro bem escrito, bem construído. Com linguagem simples sem ser banal, o autor consegue ser leve e ágil apesar da complexidade do conteúdo.
São nove histórias muito bem desenvolvidas e bem diferentes umas das outras. elas acontecem em realidades distantes entre si, mas mantém uma ligação, depois de ler as primeiras narrações o leitor (o primeiro conto) comecei a buscar personagens da história anterior e quando não encontrei comecei a buscar algo que as ligasse. Na quarta, encontrei a ligação com a primeira e isto me fez perder a verdadeira ligação. Somente após a última me pareceu claro qual era ligação.
Na realidade o livro trata sobre como a fama, a publicidade e a tecnologia podem alienar e confundir as pessoas, ao ponto delas perderem a identidade. Boa parte das narrativas que compõem este romance tem origem num mal-entendido. São situações bizarras, causadas muitas vezes pela inversão de papéis entre quem vive a fama e o anonimato, ou por alguém que abandona a vida ordinária para viver algo extremo ou tomar uma decisão inusitada. Tem um cara comum que começa a receber muitas ligações no seu celular recém-adquirido, um autor de livros cheio de manias e um homem viciado em internet que prejudica até sua carreira - irritante aliás.
As situações que eles passam são absurdas e ao mesmo tempo tão realistas, exploram como pode ser fácil se perder entre a sua vida real e aquela que você mostra as pessoas.
O autor faz a fronteira entre ficção e realidade ficar muito tênue e mostra como a exposição, seja num livro, na televisão, nos celulares ou na internet, pode tornar as pessoas vulneráveis e mesmo causar a perda da identidade.
A leitura é envolvente, pois o autor muda o estilo de narrar a cada personagem, que propositadamente são muito diferentes. Além disso, à medida que avancei, me peguei refletindo sobre a realidade e as aparências, o quotidiano e os sonhos e a noção de identidade num mundo cada vez mais saturado de “modernidades” e de pressões geradas por elas.
Recomendo.
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FAMA, de Daniel Kehlmann
ResponderExcluirGostei de Fama por ser um livro criativo e de fácil leitura.
Ele se inclui na categoria do “realismo mágico”, onde coisas impossíveis, como personagens argumentarem com os seus escritores, acontecem.
Já tinha visto essa “mágica” acontecer anteriormente no filme de 2006, Stranger than Fiction (Mais Estranho do que a Ficção, com Emma Thompson).
Nele o personagem - no caso um homem- ouve enquanto aguarda a chegada de seu ônibus uma voz narrando a morte dele, se rebela, e acaba conseguindo encontrar com a escritora.
Achei os personagens bem caracterizados e marcados, -especialmente o da Internet com seu internetês e gírias- quase todos gozando de relativa fama.
O texto é enxuto sem grandes preocupações com adjetivos e descrições.
O enredo explora mal entendidos que acontecem no dia a dia das pessoas.
Embora se entrelacem, todas as histórias são crônicas independentes, que têm começo, meio e fim, o que torna esse romance singular.
FAMA – livro de Daniel Kehlmann, editado pela Companhia das Letras, traz nove histórias unidas por diferentes laços.
ResponderExcluirAs narrativas em que se entrelaçam personagens coadjuvantes e protagonistas não tem estrutura sequencial obrigatória, deixando nas mãos do leitor a opção da leitura. Parecem enredos encerrados em si mesmos, apenas parecem.
São histórias bem diferentes umas das outras e acontecem em realidades distantes entre si, cuja origem da narrativa situa-se num mal-entendido, resultando em situações bizarras, causadas muitas vezes pela inversão de papéis entre aquele vive a fama e o que vive no anonimato, ou também por alguém que abandona a vida ordinária para viver algo extremo ou tomar uma decisão inusitada.
Os personagens são bem diversificados, como o cara comum que começa a receber muitas ligações no seu celular recém-adquirido e resolve assumir a identidade do antigo dono do número; um autor de livros cheio de manias; um ator famoso que se deu conta de que, de tanto representar outros, deixou de ser ele mesmo, sendo impedido, pelo porteiro, de entrar em sua própria residência; uma mulher que tem medo de aparecer nas histórias do marido; um blogueiro cujo maior desejo é se tornar personagem de romance; uma doente que decide viajar à Suíça em busca de uma organização que ofereça assistência ao suicídio; uma escritora que se perde, incomunicável, nos confins da Ásia, para mim a mais angustiante das histórias.
As situações que eles passam são absurdas e ao mesmo tempo realistas e, exploram como pode ser fácil se perder entre a sua vida real e aquela que você mostra para as pessoas.
O autor provoca a reflexão sobre os limites entre realidade e ficção e, mostra como a exposição pessoal, hoje em dia cada vez mais, seja por que meio for (num livro, TV, cellular, internet), pode tornar as pessoas vulneráveis e mesmo causar a perda completa da identidade.
Fama traz a dimensão de um livro ficcional sobre celebridade ao mesmo tempo que nos remete a uma reflexão sobre o poder das redes sociais, das ferramentas eletrônicas e dos devices atuais como celular, iPad.
A maioria dos personagens do livro está perdendo ou a caminho de perder a identidade, o que acontece com frequência no mundo atual; a dualidade crise de identidade-sentimento de pertencimento. Esta é a linha que costura as nove histórias, a perda da identidade.
Em suma, o livro destaca a presente fragilidade das relações humanas em nossos tempos, os encontros e desencontros e, respectivas expectativas.