terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Trem Noturno para Lisboa



de Pascal Mercier

por Daniela Lopes

O Trem Noturno para Lisboa traz temas que têm me interessado: processos/viagens de introspecção/autoconhecimento; dificuldades de acesso ao inconsciente e por consequência no entendimento do mundo interior e o mundo exterior à pessoa; o outro como espelho; as situações de arrebatamento ou escolhas da vida em que a gente não opina; além, é claro do amor pela palavra e do passeio por Lisboa, cidade que adoro. “Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que há dentro de nós, o que acontece com o resto?”

Como outsider da vida de Prado, Gregorius torna-se capaz de uma visão do todo desta vida, mais completa do que a visão possível que o próprio Prado ou os personagens que conviveram com ele puderam ter, uma visão que une o seu mundo interior e o exterior, e que alimentam o processo de autoconhecimento e transformação de Gregorius. Pegando o trem para Lisboa, Gregorius foge de sua vida para mergulhar na vida de outro e poder achar seu caminho, estabelecer relações significativas e se reconhecer em sua própria vida.

O inusitado da história de Gregorius e as reflexões filosóficas de Prado, a la Livro do Desassossego me prenderam a atenção o tempo todo, apesar de deslizes percebidos no enredo, que comento mais abaixo. O livro dentro do livro tem elaborações interessantes  que ecoam na nossa vida diária, como a da página 397 (O Veneno Ardente do Desgosto), do mesmo modo que vimos n’A Elegância do Ouriço’. As cartas de Prado para o pai e para mãe, e a carta do pai, que não foram trocadas, são bem dolorosas e tocantes.

Os personagens, principais e secundários , são na maioria consistentes mas alguns são claramente desnecessários para a trama (Natalie Rubin, moça no trem de volta, professora de português), assim como algumas passagens (porque a volta à Berna?, por exemplo). A divisão em partes também não me convenceu: a terceira parte é entitulada "A Tentativa", mas não achei bem colocado (tentativa de quê?). Há pontas soltas que frustram um pouco (e a portuguesa da ponte, com seu número de telefone?), mas que talvez estejam lá para lembrar que a vida não é um enredo bem costurado, ma maioria das vezes.

É claro que fui atrás para ver se Prado seria um personagem verdadeiro, fiquei aliviada em saber que não pois isso tiraria um pouco o brilho do livro, na minha opinião. Achei blog bem interessante de um português, que traz informações sobre o processo de criação do livro a partir de entrevista com o autor. (http://bibliotecariodebabel.com/geral/lisbon-story/)

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