quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O Centésimo em Roma


de Max Mallmann

por Beth Eloy

Deve ser muito difícil escrever um romance histórico pelo que demanda de pesquisa minuciosa para reproduzir o modo de vida de uma época remota e muito distante. Penso exatamente assim quando vejo um belo filme de época. Foi com base em sólida pesquisa, ratificada pelo autor nas Notas Diversas (páginas 399 a 416) que Max Mallman recria com fina ironia a Cidade Eterna entre os anos 68 a 70 d.C: romanos nobres, plebeus, cristãos, judeus, gregos e germanos convivem nessa vastidão que foi o Império Romano, sua intricada geografia e seu modelo político e social, onde se misturavam corrupção, assassinatos, luxúria e muito sangue.

Tornar a história autônoma, fazer com que ela pulse vivacidade pelos personagens, suas ações e a atmosfera que os envolve é o grande desafio de um romance como esse, e de forma muito humilde, o autor, cita, o medo que teve de fracassar e de que as pessoas não gostassem de ler o livro. Ledo engano: o livro é uma bela obra, prazerosa de ser lida, admirada e que nos leva a reflexão sobre nós, nosso modelo de vida, nossa estrurtura social
Lendo a parte final do livro, na qual o autor descreve os modos e os métodos de que se utilizou para a pesquisa histórica de seu romance, não duvidei da forca de vontade e paciência que foram dedicados nesses quatro anos de trabalho.

O protagonista:

Desiderius Dolens, protagonista da história é um atrapalhado centurião que sonha galgar alguns degraus na hierarquia social romana. Para tanto, trabalhou duro como soldado visando promoções e o cargo de cavaleiro da guarda real. De volta de uma campanha da Germânia recebe a alcunha de “Carniceiro de Bonna” - rumores de que havia chacinado uma cidade repleta de crianças, mulheres e idosos sem piedade.
Ao invés disso, ele é designado para comandar uma das coortes urbanas (um tipo de guarda urbana) fatia mais baixa e decadente dos postos militares.

A história:

O assassinato de um senador incumbe Dolens de investigar o fato e daí surgem personagens, suspeitos pelo crime, que podem ajudá-lo ou atrapalhá-lo em sua tão sonhada ascensão.

O centurião não está interessado em resolver o mistério, mesmo com as insistentes investidas de Nepos, filho do senador assassinado e braço direito de Dolens.

Dolens, é um típico exemplo de “macho”, mas em casa é comandado por Galswinth, Moderata, Desidéria, Olímpia e Eutrópia – hilário modelo de relação familiar.

Os personagens são construídos ao longo dos capítulos e aí nos são apresentados imperadores, escravos, cachorros mancos, pigmeus e cristãos com extremo bom humor. Espaço reservo, para o reencontro de Dólens com o seu pai, já na figura de Episcopus.

Dólens é o personagem principal, mas não menos importante o pobre Nepos, sempre levado a limpar latrinas; Eutrópia e suas viagens a base de cânhamo; Galswinth com sua indolência conveniente; Moderata, a mãe centralizadora; Desidéria a irmã dependente e a escrava Olímpia.


A estrutura do livro também é interessante: a mistura de dois tipos de texto, sendo o primeiro sobre os diálogos e descrições sobre o que acontece na hora em que a história é contada; e o segundo, com um estilo mais formal e histórico, conta a história de Desiderius Dólens, sob a perspectiva de Nepos. O primeiro, sempre forte na forma bem humorada como a história foi contada. O segundo, pareceu-me a própria história.

Demorei um pouco para me habituar ao estilo da leitura, mas foi questão de tempo até que me adaptasse a ela.

Encantamento, ao reler, após citação do autor, textos de clássicos, descritos ao longo de alguns capítulos do Liber Primus até o Liber Quintus. Desculpem os mais versados, fiquei emocionada com a estrutura desses textos.

Finalizo recomendando o livro e agradecendo ao Oswaldo Parente por essa ótima indicação


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