Editora Schwarck Ltda, 2008
Por Maria Virginia de Vasconcellos
Maio de 2012
Apreciei muitíssimo o texto e considerei o livro super
inteligente.
Porque? A primeiríssima qualidade que me agradou foi o
estilo. Frases curtas.
Fala pouco e diz muito em 104 páginas. Lê-se como se ouvíssemos
estórias ao pé do fogo: conta-se tudo rapidamente para ninguém dormir.
(o oposto das frases super-elaboradas da Muriel Barbery de
“Elegância do Ouriço” que acabamos de ler)
É de uma concisão admirável. Toca em diversos temas de forma
rápida. Se bem que se aproveita desse estilo para deixar na mente do leitor o
papel de terminar a narrativa. Em vários pontos deixa em aberto a
interpretação. Confunde-se, portanto, a realidade com os vários mitos mencionados
e intercalados ao texto. E o leitor com sua própria visão deve construir sua
própria crença.
É também uma ode a Manaus antiga, ao Amazonas às suas lendas
e mitos. Tudo parece quimérico, rápido, nesta terra e nesta história que tão
bem retrata a vida como ela é: um piscar de olhos em 104 páginas.
O Arminto Cordovil é o anti-herói lúcido sobre a realidade,
sobre a verdadeira figura do pai. Pois este pai, sobre a máscara de homem
generoso é, na verdade, um sonegador, corrupto, que se aproveita da lassidão
das leis, das instituições nacionais neste local e nesta época da exploração da
borracha.
Arminto é lúcido sobre o pai, embora completamente perdido
na busca insana pelo seu amor Dinaura, um sonho fugidio que tem um final
misterioso. No último momento do pseudo encontro entre os dois, tudo permanece
vago e cenários são apenas sugeridos. Mesmo assim, o autor lembra que “Arminto
está muito mais vivo”. O poder da mente, da crença infinita, revela a vida de Arminto como se fosse mais
um mito. Para o personagem deve existir uma explicação, construída na sua
mente. O leitor pode dar asas à imaginação.
Com o desfecho ambíguo, quem termina a obra é você.
Por Maria Virginia de Vasconcellos
Órfãos do Eldorado é um livro rico em lendas do Amazonas misturando realidade com mitos.
ResponderExcluirO título fala de três Eldorados- o navio da família Cordovil, o mito da cidade submersa, e Manaus, que foi sinônimo de Eldorado ( pg 99), pelas promessas que trazia.
Mostra a decadência de uma era, através da saga de Arminto, que de rico morreu pobre, jogando fora a fortuna da família, sem encontrar o seu Eldorado pessoal e sua paixão.
Arminto, o último sobrevivente de uma familia rica e de prestígio, sem amor , sem dinheiro e sem filhos, não deixa descendentes.
O ocaso da opulência do Amazonas, com o fim da era da borracha, coincide com a decadência de Arminto. Quando Getúlio Vargas insufla o desenvolvimento amazônico, relatado no livro, Arminto já não tem nada para reerguer.
O naufrágio do navio Eldorado, sem seguro, coincide e representa o naufrágio do sonho do Eldorado amazônico.
Os personagens são bem construídos, mas não me indentifiquei com nenhum deles. Li com curiosidade mas sem empatias.
Achei interessante a falta de capítulos estruturados e a narrativa coloquial, de um contador de histórias
Recomendaria esse livro, mas não para todos.
Ana Studart