de Muriel Barbery
A elegância do ouriço, de Muriel Barbery, não é um livro que eu compraria. Ganhei de uma prima há quase 2 anos e, apesar de suas expressivas recomendações, o exemplar ficou na prateleira do ‘talvez-algum-dia’. Agora que li, não recomendaria. (Juro que esta rima não foi proposital) Achei o livro maçante... A voz da escritora está em tudo e em todos vomitando filosofia de uma forma cansativa.
7, Rue de Grenelle, Paris: um edifício de 6 andares com a autora morando na Portaria e acima.
O livro é narrado, alternadamente, pela zeladora do prédio – uma cinquentona – e por uma adolescente. Descrevendo o cotidiano e, supostamente por pontos de vista paralelos, “pensamentos profundos” e “movimentos do mundo”. São poucas as cenas, excesso de seqüelas e sem trama identificável.
A idéia da “invisibilidade” e do não se mostrar aos outros considerei um exercício de apologia à inteligência e cultura dentro de uma redoma de arrogância. A garota é a autora criança, a zeladora, a autora nos seus 50 e, não bastasse: chega o senhor Ozu como um brilhante ser masculino (também da autora) para completar a família.
O engraçado é que a autora teve que matar o crítico de gastronomia, personagem de seu livro anterior, para dar espaço ao senhor Ozu. (Sem problemas, até porque o título traduzido é A Morte do Gourmet e parece extremamente chato também)
No A elegância do ouriço, temos encontros ingênuos e inverossímeis entre as 3 versões da autora. Penso que se o livro se concentrasse apenas nos diários e nos pensamentos profundos talvez pudesse ficar interessante...
A narrativa – estranha e aborrecida – privilegia cenas dispensáveis, como a da visita do jovem Arthens procurando o nome de uma flor, e passa correndo pela “catarse” de Renée ‘segurando as mãos de Paloma’. Isso, pra não falar da narração da própria morte... é necessário ser um Mestre-nas-Artes-da-Escrita pra bancar uma cena destas. E a jovem suicida que vira fofoqueira e desiste de queimar tudo para “perseguir os sempres no nunca”?
No entanto, aprendi palavras novas: forclusão, melopéia e nimbado.... “Googlei” para ver o quadro do Pieter Claesz, ouvir o lamento de Dido e ler trechos relacionados ao texto O porco-espinho e a raposa: um ensaio sobre a visão da historia de Tolstoi, do filósofo Isaiah Berlin.
A escritora é professora de filosofia e pode ter se inspirado naquele trabalho e na citação de um poeta grego: “A raposa sabe muitas coisas, mas o porco-espinho sabe apenas uma e grandiosa coisa”. — oh, those philosophical French!*
Gostei de conhecer o ensaio e sua classificação de escritores e pensadores, ou mesmo das pessoas em Raposas e “Ouriços”. Recomendo: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Hedgehog_and_the_Fox
Para quem ainda não assistiu, vale o interessante trabalho de design que nos apresenta o trailer do livro: http://vimeo.com/37707852
E mais, considero importante partilhar outros pontos de vista sobre o livro, existem vários bem positivos, tais como : http://peregrinacultural.wordpress.com/2008/07/08/a-elegancia-do-ourico-muriel-barbery
Com abraços, vale ainda uma visita ao link de resenha que inclui o trailer do filme: http://queromoraremumalivraria.blogspot.com.br/2010/05/elegancia-do-ourico-trailer-do-filme.html
* da crítica do NYTimes, of course! http://www.nytimes.com/2008/09/07/books/review/James-t.html
Pois é, vou discordar...Li duas vezes "A Elegância do Ouriço", e as duas, com muito prazer. É um livro que talvez seja mais curtido por leitores que amem a França e seu povo- a caracterização dos personagens é muito boa, e o senso de humor, considero perfeito.
ResponderExcluirGosto da forma despretensiosa com que a autora coloca o eixo do livro: a desigualdade social, situada num edificio nobre em Paris. No início do livro, ela cita Karl Marx oito vezes.
Gosto do paralelo que a autora faz entre a transformação de Renée e da adolescente ao longo o livro- uma descobrindo o amor, outra descobrindo a vida. Gosto também de outro paralelo que a autora faz com as duas que, por razões diversas, escondem de todos suas inteligências e senso crítico.
Achei boa a ideia de introduzir animais de estimação como elementos de ligação entre os moradores do prédio. E também achei prático usar tipos de letra diferentes para as narrativas de Paloma e Renée, facilitando a identificação dos personagens.
Achei primorosa a tradução de Rosa Freire d'Aguiar.
Para mim, a frase central do livro está na página 312, associando a medicina e a literatura, porque afinal, "as duas curam".
Ana Studart