quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Resenha de "A mulher que escreveu a bíblia", de Moacyr Scliar

 A Mulher que Escreveu a Bíblia (Brasil) — 2007

Autor: Moacyr Scliar

Editora: Companhia de Bolso

168 páginas




Sobre o autor (fonte wikipedia e outras)

Moacyr Scliar, nasceu em Porto Alegre, em 1937, e faleceu na mesma cidade, em 2011. Filho de imigrantes judeus do antigo Império Russo, Scliar formou-se em medicina e atuou como médico sanitarista e professor universitário. 

Além disso, foi escritor. Publicou mais de 70 livros e ganhou muitos prêmios literários, entre eles, quatro Jabutis, incluindo A Mulher que escreveu a Bíblia (prêmio Jabuti de Literatura, categoria romance, de 2000). 

Suas obras foram traduzidas para doze idiomas. 

Scliar foi o sétimo ocupante da cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras. 


Sobre a obra 

A mulher que escreveu a Bíblia é uma sátira muito criativa e bem contada sobre o processo de redação da Bíblia se ela fosse escrita por uma mulher nos tempos de Salomão. 

No prólogo, o autor narra o encontro de uma mulher “feia” com um terapeuta de vidas passadas charlatão. A mulher dizia-se infeliz nos relacionamentos, em particular num relacionamento que teve com um funcionário da fazenda de seu pai que a troca por sua irmã. Após algumas sessões, a mulher desaparece e deixa uma carta ao terapeuta em que se diz agradecida e curada após descobrir que, no século X antes de Cristo, foi uma das setecentas esposas do rei Salomão - a mais feia de todas, mas a única capaz de ler e escrever. 

O romance, então, trata da história dessa mulher (sem nome) que, por ironia do destino, acaba encontrando-se em Jerusalém, casada com o mais poderoso dos soberanos da época. 

A menina, primogênita da família de um rico criador de cabras, era tão inteligente quanto feia. Vivia reclusa junto às montanhas e às cabras da fazenda de seu pai e nutria uma paixão não correspondida por um pastorzinho, que fora expulso daquela região ao engravidar sua irmã mais nova. 

Ciente da inteligência da menina, o escriba de seu pai (que também era analfabeto) decidiu ensiná-la a escrever.

Um dia, seu pai recebe a visita de um mensageiro do rei Salomão que determina que o fazendeiro conceda sua filha primogênita a contrair matrimônio com o rei em troca do estreitamento de laços políticos.

A menina parte para o templo e se une às outras 700 esposas do rei. Ao descobrir que sua mais nova esposa sabia escrever e percebendo a astúcia da menina, Salomão pede que ela se junte ao grupo de escribas do reino, que havia sido incumbido de escrever a história do povo de Israel, mas ainda não havia conseguido concluir o feito.

Ela, então, escreve o conjunto de livros que hoje conheceríamos como o antigo testamento bíblico. Seus textos são revisados constantemente pelos escribas, que acabam realizando edições exageradas. A obra seria apresentada à rainha de Sabá que estava em visita ao reino de Salomão, quando sofre um atentado e é parcialmente incinerada. O meliante era justamente o pastorzinho que ela conhecia da fazenda do seu pai, que, expulso, encontrou abrigo junto a um grupo de missionários daquela região. 

A prosa de Scliar é muito interessante porque, além de ser muito leve, traz aspectos relacionados ao fluxo de consciência da protagonista, o que abre espaço para a inserção de palavras chulas e reflexões muito particulares e divertidas. Nesse sentido, a obra é, claramente, é um texto feminista, uma apologia à inteligência e sagacidade do feminino.

A despeito do que possa ser imaginado ao lermos o título, a obra em si, traz muito pouco de contexto religioso, dogmático ou doutrinário – chega a ser quase o contrário! Apesar disso, percebe-se que o autor é um grande conhecedor dos textos bíblicos enquanto material literário, e, em certos trechos, ter o conhecimento prévio das histórias mencionadas auxiliaria na compreensão de certas ironias e referências trazidas pelo autor. 

A mulher que escreveu a bíblia é, antes de tudo, uma obra fantasiosa, irônica e cômica que surpreende muito pela forma e é uma excelente introdução aos textos de Scliar. 


Cristiane Vianna Rauen

06 de fevereiro de 2024

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