por Carlos Guido Soares Azevedo
Aluísio Azevedo nasceu em São Luís em 14 de abril de 1857, filho de David Gonçalves de Azevedo (vice-cônsul português no Brasil) e Emília Amália Pinto de Magalhães, foi romancista, jornalista, cronista, desenhista e pintor do cotidiano maranhense e era o irmão mais novo do famoso dramaturgo Artur Azevedo e se tornou um dos mais representativos escritores brasileiros ao lado de Machado de Assis, embora tão diferentes em valores e atitudes.
Embora filho de Vice-cônsul seu
primeiro trabalho foi como caixeiro-viajante. Adorava pintar e desenhar, e se
mudou para o Rio de Janeiro com 19 anos (onde já morava seu irmão Artur), para
estudar na Escola Nacional de Belas Artes. Depois de formado, desenhou
caricaturas para jornais como O Fígaro, O Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada.
Acredito que seu olhar crítico e
detalhado para as pessoas e cenas que representava com seus traços de caricaturista,
lhe deu o potencial para descrevê-los em seus livros e se integrar ao movimento
naturalista.
A morte do pai, em 1878, fez com
que voltasse a São Luís, para cuidar da família e dos negócios. Como todas as
mudanças trazem consequências e sendo o Maranhão um celeiro dinâmico de
literatos jovens e renovadores, participou nessa época da fundação de um jornal
anticlerical e abolicionista chamado O Pensador.
Foi essa interrupção na sua
profissão de caricaturista que o fez decidir iniciar sua carreira de escritor,
publicando em 1880 um típico romance romântico, Uma Lágrima de Mulher.
Seu desejo de fazer da literatura
um meio de vida o fez publica, no ano seguinte o primeiro romance naturalista
da história do Brasil. O Mulato, no qual descreve com detalhes nunca vistos, a
vida e a dinâmica de uma comunidade de escravos, suas sujeições e emoções.
No começo, pretendia com a
literatura, tão somente garantir seu sustento, mas foi dominado pelo poder da
escrita e passou de observador do meio social a descritor dos seus usos e
costumes, com profundidade e veracidade, nunca vistas. Foi o sucesso de vendas
dos seus livros que o fez assinar contrato com a Livraria Garnier, uma das mais
importantes do país e se tornar o primeiro escritor brasileiro a viver de
literatura.
Voltou para o Rio de Janeiro já
como escritor consagrado e daí em diante escreveu ininterruptamente por 13
anos, entre 82 e 95, quando se tornou diplomata como seu pai e serviu como
cônsul na Espanha, no Japão, Inglaterra, Itália e Argentina onde morreu aos 55
anos.
Seus livros eram consideradas
pelos livreiros da época obscenas e, não romances experimentais, como
denominavam seus escritores. “O Homem” foi taxado, por exemplo, de “erótico” e
“obsceno”, fato que atraia leitores carentes de representações de sexo. A obra
enfatizava os institutos femininos da personagem Magdalena diagnosticada com histeria
doença de mulher carente, para a época e cujo tratamento era o sexo – “Ela
precisa é de homem”.
Sexo, além é de um tema
recorrente, também é uma das premissas naturalista. A menstruação — um tabu
para a época — é descrita como nunca na literatura brasileira. Cenas de
adultério e de homossexualidade (à época, tida como patologia) também são
abundantes, bem como a presença da prostituição e da figura da jovem virginal
que acaba transformando-se em prostituta. Suas personagens são animalizadas e hiper
sexualizadas, desnudadas ao longo do romance, enfatizados seus desejos, vícios
e fisiologia.
Inspirado por Émile Zola e Eça de
Queiroz, Aluísio Azevedo desenhou, encenou e escreveu sobre o século XIX,
marcado pelo preconceito racial, hipocrisia das elites sociais, vícios e
promiscuidade da população de São Luís do Maranhão, (e das demais províncias).
Suas obras caracterizavam e
criticavam o provincianismo e suas ideias retrógradas e buscavam apresentar base
científica sob a influência do Darwinismo (expressão máxima da natureza); Émile
Zola (determinismo e expressionismo); Hipólito Taine (ser humano como máquina
sujeita às leis da física e da química); Hereditariedade física e social
(personagens produtos do meio biológica e social); e Postura científica (com
base na ciência da época, voz de especialista) e descrições visuais, olfativas,
táteis e auditivas.
A obra de Aluísio Azevedo é
composta por três livros de contos, oito peças de teatro e onze romances. Uma
Lágrima de Mulher (1880); O Mulato (1881); Mistérios da Tijuca, ou Girândola de
Amores (1882); Memórias de um Condenado, ou A Condessa Vésper (1882); Casa de
Pensão (1884); Filomena Borges (1884); O Homem (1887); O Cortiço (1890); A
Coruja (1890); A Mortalha de Alzira (1894); O Livro de uma Sogra (1895);
Peças de teatro: Os Doidos (1879);
Flor-de-lis (1882); Casa de Orações (1882); O Caboclo (1886); Fritz Mack (1889
— em parceria com Artur Azevedo); A República (1890); O Adultério (1891); Em
Flagrante (1891). Crônicas: O Japão —
1894). Contos: Demônios — 1895). Pégadas
(1897); O touro negro [contos, cartas e crônicas em ed. póstuma] (1938)"
Situando o autor em sua época e
contextualizando sua missão pessoal de construir um sentido de brasilidade,
vencer um comportamento cínico em uma sociedade que se fazia católica, mas que
não seguia suas regras, com costumes e práticas sociais ultrajantes, totalmente
em desacordo com a imagem que queriam transmitir.
Costumes sociais totalmente
desvinculado de valores morais sérios. Ainda não tínhamos recebido a invasão da
escola conservadora protestante, de modo significativo e o mundo católico se
dedicava à devoção formal e à vida de aparência pudica e castradora das
famílias, aceitando a vida desregrada do masculino com suas concubinas e
cabarés, na imitação da vida e da moda ditada em Paris. Dentre essas, o romance
Madame Bovary de Flaubert que dá início ao realismo e fomenta a corrente
realista e científica, da qual Machado e Aluísio são filiados, sendo o início
do Realismo e do Naturalismo na literatura brasileira tido como a publicação do
O Mulato.
Só para apoiar a construção de
sua contemporaneidade, Aluísio participou da fase mais dura da formação da
república brasileira, em sua época estourava revoluções federalistas em quase
todas as províncias, favoráveis à monarquia e resistentes aos conceitos republicanos.
Havia uma revolta clara contra o final da escravatura, contra a ocupação de
cargos de governadores por pessoas que não os oligarcas das províncias,
enquanto o povo brasileiro não sabia o que de fato acontecia, já que a
Proclamação da República, foi mesmo um golpe militar com seu comandante,
atônito e sem compreender o que fazia, pois gritava Viva D. Pedro II, de quem
era amigo íntimo.
Em 1985 quando se tornou cônsul,
o Brasil reatou relações com Portugal; O governo central da república derrotou
a revolução federalista do Rio Grande do Sul; O Brasil assinou um tratado de
amizade com o Japão; Foi iniciada a guerra de Canudos e; Fundada a Academia
Brasileira de Letras, por Machado de Assis.
Aluísio, diferentemente de
Machado que era tido como o bruxo do Cosme Velho, pelo seu atavismo e
resistência a viajar, foi um homem do mundo, adepto das correntes filosóficas,
como o Evolucionismo de Charles Darwin, o Determinismo de Hipólito Taine e o Positivismo de Auguste Comte.
Foi exímio retratista de seu
tempo e de seu espaço, um dos mais estudados para o vestibular, onde se resume
as características dos seus escritos, como: Descrições minuciosas do ambiente e
narrativa lenta do enredo; Linguagem simples e regional, focada na realidade
cotidiana, com visão crítica e retratando a sociedade como ela era; Releva as
patologias sociais e individuais, com personagens, degradados, animalescos e
sensuais; No fundo, assumindo um tom crítico à decadência moral, e aos
comportamentos preconceituosos, principalmente o racial.
Moral desconstruída
Aluísio de Azevedo, junto com
Machado de Assis assumem como missão construir uma brasilidade, um novo
comportamento social, mais moderno e menos provinciano, através de uma visão
crítica dos costumes e valores da época.
Ele opta por uma desconstrução da
moral, como instrumento pedagógico, algo parecido nos nossos dias com o
escritor e Nelson Rodrigues que para propugnarem uma sociedade conservadora nos
princípios e atenta a regras de civilidade, cortesia, com obediência a valores
éticos e morais, resolvem mostrar a desconstrução da moral e externar de forma
arrasadora o comportamento hipócrita e aético dessa sociedade, com fins
educativos mostrando as consequências perversas e funestas para seus
personagens.
No entanto, o que é percebido em nessas
obras por essa sociedade, é a diversão e a luxúria, sem atentar para os castigos
e as condenações e seus finais trágicos no contexto das histórias.
No caso de Nelson, cheguei a
presenciar sua indignação à saída de uma de suas peças teatrais, com sua
revolta, chamando aquela turba alegre e divertida na saída do teatro de
“cínicos e pervertidos...”.
O Homem – deu-me um
pequeno relevo da minha ignorância profunda sobre a literatura brasileira. Recomendo com distinção aos novos e velhos
leitores.
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