Considerações de Marília Klotz
Não
há como não gostar de Machado de Assis. Obviamente que recomendo o livro.
Por
força do hábito da associação livre a leitura dessa obra me lembrou dois
aspectos:
1- Esaú
e Jacó, Cosme e Damião, Pedro e Paulo , Caim e Abel entre outros me recordaram
os “pares de opostos” que é um conceito Freudiano. Na psicanálise, Freud nos
fala da importância dos pares de opostos para o desenvolvimento humano, tanto assim
que considera como uma das mais importantes fases do desenvolvimento infantil,
no seu aspecto positivo para a constituição de uma mente mais flexível às
mudanças e adaptações da realidade. O
conceito de inteligência , por exemplo, mudou do QI – coeficiente de
inteligência medido por índices de conhecimento para a capacidade dos sujeitos
de se adaptarem as diferentes situações. Os pares de opostos observados por
Freud contribuíram para essa mudança.
No livro, a mãe
(Natividade) tem grande preocupação com as diferenças entre os filhos,
demonstrando dificuldades com a aceitação das mesmas. Ela associa as diferenças
a uma rivalidade de aspecto negativo. Seu
empenho é eliminar ou minimizar as mesmas.
As idéias , as escolhas, as percepções dos filhos são vistas como
divergentes e nada tranquilizantes. Hoje em dia, mais do que nunca estamos
defrontados com as dificuldades de lidar com as diferenças, com o novo, com o
desconhecido seja no plano das idéias, da sexualidade de gênero, na religião,
na política etc. Nesse aspecto creio ser melhor lidar com as rivalidades, com
os contrastes, com as diferenças a favor do crescimento pessoal e do
conhecimento humano do que com uma tranquilidade burra.
2- Outra
associação ao livro foi a da “profecia auto realizável”. Na economia tem um princípio que é o
seguinte: Cria-se um boato que tal instituição bancária vai falir. Todos os
acionistas vão lá e retiram seu capital. Por sua vez o Banco acaba falindo
mesmo. No livro quem cria esse boato é a
Cabocla, dizendo que os filhos-gêmeos já brigavam na barriga da mãe. Daí para
frente toda a preocupação da mãe (Natividade) recaí sobre esse fato.
Entretanto, sabemos que tudo aquilo que está no inconsciente presentificado e
desejado é motor das ações e comportamentos conscientes. Inconscientemente a mãe preocupava-se e
transmitia isso aos filhos que como efeito responderam sintomaticamente a essa
preocupação materna instituindo e mantendo as divergências e as diferenças
inevitáveis. Tudo aquilo que é marcado com muita intensidade fica
acentuado. Por exemplo, se numa pessoa
gaga você marca sempre a gagueira a pessoa ficará mais gaga ainda. No caso do
livro, se você marca sempre as rivalidades entre Pedro e Paulo é isso o que vai
se acentuar. Metaforicamente “Flora”, o
grande amor dos irmãos gêmeos, para mim simbolizava o reconhecimento dessas
diferenças, do jeito particular do ser de cada um, como também um respeito
amoroso a este fato, cuja escolha era impossível. Escolher um deles era ficar
com a metade do todo! Natividade , simbolizava o ideal, igualmente inatingível
e por isso causador de tanta angústia.
Machado de Assis sempre trás de forma poética as mazelas
humanas, por conta disso sua obra,
traduzida em tantas línguas, possui a repercussão e o efeito que tem. Ele
dialoga com o leitor, antecipa os pensamentos, justifica, enfim interage,
fazendo com que as pessoas participem de sua obra. Muito bom !
Vamos reler os clássicos ?
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