domingo, 24 de setembro de 2017

Esaú e Jacó


de Machado de Assis

                                                                     Considerações de Marília Klotz

            Não há como não gostar de Machado de Assis. Obviamente que recomendo o livro.
            Por força do hábito da associação livre a leitura dessa obra me lembrou dois aspectos:
1-     Esaú e Jacó, Cosme e Damião, Pedro e Paulo , Caim e Abel entre outros me recordaram os “pares de opostos” que é um conceito Freudiano. Na psicanálise, Freud nos fala da importância dos pares de opostos para o desenvolvimento humano, tanto assim que considera como uma das mais importantes fases do desenvolvimento infantil, no seu aspecto positivo para a constituição de uma mente mais flexível às mudanças e adaptações da realidade.  O conceito de inteligência , por exemplo, mudou do QI – coeficiente de inteligência medido por índices de conhecimento para a capacidade dos sujeitos de se adaptarem as diferentes situações. Os pares de opostos observados por Freud contribuíram para essa mudança.
No livro, a mãe (Natividade) tem grande preocupação com as diferenças entre os filhos, demonstrando dificuldades com a aceitação das mesmas. Ela associa as diferenças a uma rivalidade de aspecto negativo.  Seu empenho é eliminar ou minimizar as mesmas.  As idéias , as escolhas, as percepções dos filhos são vistas como divergentes e nada tranquilizantes. Hoje em dia, mais do que nunca estamos defrontados com as dificuldades de lidar com as diferenças, com o novo, com o desconhecido seja no plano das idéias, da sexualidade de gênero, na religião, na política etc. Nesse aspecto creio ser melhor lidar com as rivalidades, com os contrastes, com as diferenças a favor do crescimento pessoal e do conhecimento humano do que com uma tranquilidade burra.

2-     Outra associação ao livro foi a da “profecia auto realizável”.  Na economia tem um princípio que é o seguinte: Cria-se um boato que tal instituição bancária vai falir. Todos os acionistas vão lá e retiram seu capital. Por sua vez o Banco acaba falindo mesmo.  No livro quem cria esse boato é a Cabocla, dizendo que os filhos-gêmeos já brigavam na barriga da mãe. Daí para frente toda a preocupação da mãe (Natividade) recaí sobre esse fato. Entretanto, sabemos que tudo aquilo que está no inconsciente presentificado e desejado é motor das ações e comportamentos conscientes.  Inconscientemente a mãe preocupava-se e transmitia isso aos filhos que como efeito responderam sintomaticamente a essa preocupação materna instituindo e mantendo as divergências e as diferenças inevitáveis. Tudo aquilo que é marcado com muita intensidade fica acentuado.  Por exemplo, se numa pessoa gaga você marca sempre a gagueira a pessoa ficará mais gaga ainda. No caso do livro, se você marca sempre as rivalidades entre Pedro e Paulo é isso o que vai se acentuar. Metaforicamente “Flora”, o grande amor dos irmãos gêmeos, para mim simbolizava o reconhecimento dessas diferenças, do jeito particular do ser de cada um, como também um respeito amoroso a este fato, cuja escolha era impossível. Escolher um deles era ficar com a metade do todo! Natividade , simbolizava o ideal, igualmente inatingível e por isso causador de tanta angústia.

Machado de Assis sempre trás de forma poética as mazelas humanas, por conta disso  sua obra, traduzida em tantas línguas, possui a repercussão e o efeito que tem. Ele dialoga com o leitor, antecipa os pensamentos, justifica, enfim interage, fazendo com que as pessoas participem de sua obra.  Muito bom !  Vamos reler os clássicos ?

Nenhum comentário:

Postar um comentário