de Ngugi wa Thiong'o
Romance muito interessante sobre a luta de independência do Quênia.
Impressiona a simplicidade da abordagem humanística do tema. Não há longas descrições sobre o domínio Inglês e suas barbaridades, elas aparecem muito sutilmente nas descrições da vida de cada personagem, que lutam para dar normalidade e viverem suas alegrias e paixões em um meio hostil e opressor, diante de um inimigo onipresente e armado, capaz de cooptar parte da comunidade e transformar pessoas simples em temidos guerrilheiros.
A inovação do romance, todavia, vem da forma pessoal de abordagem do tema, com simplicidade e sem expectativa de gerar uma odisseia, a estória é contada passo a passo da luta de libertação do Quênia com os Mau Mau enfrentando a organização inglesa sem armas e sem estrutura, num esforço pessoal de cada cidadão e cidadã que faz o juramento pela libertação, e que se trona a principal preocupação do colonizador. No entanto, não expressa um ódio avassalador sobre o colonizador, que as vezes é descrito até com certa admiração e respeito, em função da força, da tecnologia e da organização.
Assim, a estória se desenvolve centrada no funcionamento da aldeia Thabai em particular, a aldeia original é queimada, os habitantes são obrigados a construir outra em lugar mais visível em pouco tempo. Os homens são levados para a prisão por longos anos e cada drama da vida das famílias é mostrado de modo quase independente. Como também, os personagens, são descritos em capítulos próprios quase isolados da trama.
A vida comum da aldeia é colocada como pano de fundo da luta pela sobrevivência, mais que luta pela independência. A fragilidade é superada pela criação de heróis e a mitificação dos homens que lutam, como Kihika que fora martirizado pelos ingleses nos arredores da aldeia.
A aldeia Thabai, também precisa honrar seus heróis vivos, mas precisa antes mitiza-los, como se diria hoje, esta necessidade encontra eco na vida sofrida e pouco conhecida de Mugo, o pretenso herói da aldeia que havia lutado ao lado de Kihika, sofrera anos de prisão e não denunciara seus amigos nem sob tortura, em longas jornadas em diferentes presídios.
Mugo estava reconstruindo a vida na sua aldeia, com trabalho duro na sua Shamba, curtindo sua nova cabana e sua solidão, sem buscar nem aceitar elogios. Mas, a aldeia precisa honrar seu herói vivo, que é capaz de falar com Deus e até faz milagres. Mugo é instado a assumir o papel de líder, de herói, na festa da independência, a Uhru, e até fazer o discurso principal, afinal o Quênia estava livre do colonizador inglês. No entanto, ele se nega, peremptoriamente a esse papel.
Durante estes festejos, no dia do Huru, antigos guerrilheiros, comandados pelo General R planejavam expor e executar o suposto traidor que levou Kihika à morte. Eles tinham certeza que fora o Karanja. Ninguém sabia, de fato, quem havia entregue Kihika, mas se desconfiava que, era mais que justo que Karanja fosse morto e assumisse o crime, afinal ele havia traído muitos, trabalhado a serviço de Thompson e, matado muitos companheiros, como se fossem animais.
Na festa de Uhru, o grande dia da independência do Quênia, a Aldeia comemora em festa animada, mas seus habitantes já desconfiavam que os deputados que substituiriam os colonizadores, não seriam muito diferentes desses e que iriam continuar explorando o povo simples da mesma forma.
Mugo, estava pronto para ser tomado como o herói típico da aldeia, mas em sua solidão, ele curtia uma profunda tristeza por ter em um momento, de fraqueza pela ausência de perspectiva própria de futuro, pela fragilidade pessoal, desejando recompor sua vida financeira, viu o prêmio por informações sobre Kihika como a solução da sua vida e o entregou ao temido Chefe do Distrito, John Thompson.
O ambiente fica muito tenso no momento em que o General R pede que o traidor de Kihika se entregue. Todos ficam esperando que Karanja se entregue e, ele mesmo sabia que poderia ser morto naquele dia e tinha ido à festa aceitando o risco, porque não se via mais naquela realidade da aldeia.
Neste momento, um pouco antes do horário fixado para seu discurso final, Mugo chega e assume a culpa na frente de toda a comunidade gerando um anticlímax e uma mudança significativa de expectativa na comunidade, que mesmo sabendo que seu herói seria morto, não cessa de respeita-lo e expressar sua admiração pela coragem e personalidade de assumir seu erro publicamente.
Deixando no ar a pergunta: Quem seria capaz de fazer aquilo, se não nosso herói Mugo?
Afinal, como um grão de trigo ele tinha que ser enterrado para renascer como herói.
Indico com louvor.
Mas, informo que não é romance de diversão.
“Na verdade, como lí em meio digital e com muita pressa, tive que refazer a estória mentalmente para poder compreender a sua lógica, que no momento da leitura me pareceu muito desconjuntada”.
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