segunda-feira, 10 de abril de 2017

Contar Tudo


de Jeremias Gamboa
por Carlos Guido Azevedo

Jeremias Gamboa ou Gabriel Lisboa, como se denomina no livre, quase autobiográfico é um jovem escritor peruano que tinha muita dificuldade de escrever. Sofreu dez anos de bloqueio psicológico para conseguir realizar seu sonho de se tronar escritor e “escrever algo” para sua vida, como um livro que o tornasse famoso.
Embora desenvolvendo todas as competências intelectuais para atingir seu intento, tornando-se um competente jornalista, chegando a dominar todas as fases de elaboração de algumas revistas e, mesmo construindo uma sólida formação intelectual dentro da boa Universidade de Lima, tendo frequentado diversos cursos e chegado mesmo a ensinar em diversas cadeiras as técnicas de redação, Gabriel Lisboa não conseguia assumir a responsabilidade de “escrever algo”.
Tendo, afinal, aprimorado sua capacidade incomum de perceber e descrever ambientes e pessoas em diferentes matizes dos subúrbios de Lima e identificado situações e costumes inusitados através de crônicas centrais das revistas, que lhe renderam sucesso no meio jornalístico, mas, mesmo assim, Gabriel sentiu que o jornalismo não o realizaria e abandonou radicalmente a profissão.
Integrado a um grupo de neófitos pensadores e potenciais escritores e poetas, um pouco de loucos, um pouco de artistas e muito de imaturos e inconsequentes com a vida e suas responsabilidades, Gabriel encontrou o ambiente adequado para esconder suas restrições psicológicas, sua insensatez com a vida e principalmente fortalecer sua afetividade numa relação de dependência e sujeição afetiva que o faria sempre caudal e dependente dos “monstros” como se chamavam os adeptos da confraria em seus “Conciliábulos”.
A absoluta imaturidade dos monstros está longamente definida nas dificuldades de todos no relacionamento com o sexo feminino e na dificuldade da entrega afetiva de cada um, quando por sua vez, vão encontrando suas parceiras e deixando o nosso herói cada vez mais só, a cada finalização de romances que lhe ocorriam e quando ia em busca de apoio e explicações para cada uma das suas frustrações com Cecília, Cláudia, Fernanda, etc.
Pois bem, depois de quase dez anos de bloqueio, mesmo detendo todas as competências específicas para a realização do seu intento, Gabriel só se sente capaz de buscar seu objetivo de tornar-se um escritor, quando afinal, abandonado pelos amigos, curtindo a traição de Fernanda, viu sua turma evadir-se, seu dinheiro sumir e a idade dos trinta chegar.
Afinal, encontra seu tema perfeito, ele mesmo e sua trajetória até aquele momento de superação, senta e começa a escrever, sua própria viagem de dez anos à Jack Kerouac em On The Road, e o faz com tanto empenho, com tal verve, tal dedicação que conta tudo em seus mínimos detalhes, esgotando a paciência de qualquer leitor com suas 530 folhas de eventos absolutamente insignificantes, numa reedição medíocre de Marcel Proust em Busca do Tempo Perdido.
Ficando o leitor extenuado e insatisfeito sem encontrar nele, as inovações descritivas do Kerouac ou a qualidade da escrita e do deslumbramento de Proust.

Recomendo, exclusivamente, para colegas que querem ser escritores e passam por dificuldades de criação.

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