de Jeremias Gamboa
por Carlos Guido Azevedo
Jeremias Gamboa ou Gabriel Lisboa,
como se denomina no livre, quase autobiográfico é um jovem escritor peruano que
tinha muita dificuldade de escrever. Sofreu dez anos de bloqueio psicológico
para conseguir realizar seu sonho de se tronar escritor e “escrever algo” para
sua vida, como um livro que o tornasse famoso.
Embora desenvolvendo todas as
competências intelectuais para atingir seu intento, tornando-se um competente
jornalista, chegando a dominar todas as fases de elaboração de algumas revistas
e, mesmo construindo uma sólida formação intelectual dentro da boa Universidade
de Lima, tendo frequentado diversos cursos e chegado mesmo a ensinar em
diversas cadeiras as técnicas de redação, Gabriel Lisboa não conseguia assumir
a responsabilidade de “escrever algo”.
Tendo, afinal, aprimorado sua
capacidade incomum de perceber e descrever ambientes e pessoas em diferentes
matizes dos subúrbios de Lima e identificado situações e costumes inusitados
através de crônicas centrais das revistas, que lhe renderam sucesso no meio
jornalístico, mas, mesmo assim, Gabriel sentiu que o jornalismo não o
realizaria e abandonou radicalmente a profissão.
Integrado a um grupo de neófitos
pensadores e potenciais escritores e poetas, um pouco de loucos, um pouco de
artistas e muito de imaturos e inconsequentes com a vida e suas
responsabilidades, Gabriel encontrou o ambiente adequado para esconder suas
restrições psicológicas, sua insensatez com a vida e principalmente fortalecer
sua afetividade numa relação de dependência e sujeição afetiva que o faria
sempre caudal e dependente dos “monstros” como se chamavam os adeptos da
confraria em seus “Conciliábulos”.
A absoluta imaturidade dos monstros
está longamente definida nas dificuldades de todos no relacionamento com o sexo
feminino e na dificuldade da entrega afetiva de cada um, quando por sua vez,
vão encontrando suas parceiras e deixando o nosso herói cada vez mais só, a
cada finalização de romances que lhe ocorriam e quando ia em busca de apoio e
explicações para cada uma das suas frustrações com Cecília, Cláudia, Fernanda,
etc.
Pois bem, depois de quase dez anos
de bloqueio, mesmo detendo todas as competências específicas para a realização
do seu intento, Gabriel só se sente capaz de buscar seu objetivo de tornar-se
um escritor, quando afinal, abandonado pelos amigos, curtindo a traição de
Fernanda, viu sua turma evadir-se, seu dinheiro sumir e a idade dos trinta
chegar.
Afinal, encontra seu tema perfeito,
ele mesmo e sua trajetória até aquele momento de superação, senta e começa a
escrever, sua própria viagem de dez anos à Jack Kerouac em On The Road, e o faz
com tanto empenho, com tal verve, tal dedicação que conta tudo em seus mínimos
detalhes, esgotando a paciência de qualquer leitor com suas 530 folhas de
eventos absolutamente insignificantes, numa reedição medíocre de Marcel Proust
em Busca do Tempo Perdido.
Ficando o leitor extenuado e
insatisfeito sem encontrar nele, as inovações descritivas do Kerouac ou a
qualidade da escrita e do deslumbramento de Proust.
Recomendo, exclusivamente, para
colegas que querem ser escritores e passam por dificuldades de criação.
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