por Cristiane Vianna Rauen
Contar tudo é um livro sobre o penoso
processo criativo de um jovem escritor da periferia de Lima. Nas 531 páginas de
sua redação muito bem escrita, Gabriel Lisboa nos conta toda a trajetória que
percorreu durante dez anos de sua vida para finalmente escrever o seu primeiro
romance.
A narrativa se inicia no verão de 1995
quando o tio de Gabriel, Emilio, também seu pai adotivo, consegue uma
entrevista de emprego num periódico oposicionista de nome Proceso. Impressionado pelo fato de Gabriel estudar numa das
universidades mais prestigiadas de Lima e ter uma bolsa integral por desempenho
acadêmico, Francisco De Rivera concede ao rapaz o emprego. De Rivera é
apresentado, então, ao leitor como a primeira influência ao jovem escritor, assim
como seu colega de trabalho e mentor, Saúl Vegas.
Em sua primeira experiência de trabalho,
na Proceso, Gabriel se especializa e
passa a alcançar cada vez mais destaque como jovem jornalista. O ofício lhe
permite aprimorar sua capacidade de redação, lhe traz prestígio e ascensão. No
entanto, Gabriel sente que ainda precisa escrever.
É nesse momento, na universidade, que
conhece sua maior influência no processo criativo, Santiago Monteiro, o seu
amigo poeta. Monteiro o convida a participar das aulas no curso de Oficina de Poesia.
A partir de então um novo mundo abre-se diante de Gabriel e muitas novas
influências surgem em sua vida, como Jorge Ramírez Zavala, também poeta, e
Bruno Lorente, o Spanton.
Nas férias de verão seguintes, já cansado
do ritmo e da falta de pagamento de salários da Proceso, Gabriel consegue emprego no periódico La Industria, para onde também tinha sido transferido De Rivera.
Gabriel passa por algumas seções do La
Industria até alcançar o cargo de redator da revista de seu maior
interesse, a Semana, cujo editor era o
próprio De Rivera. Na Semana, Gabriel
atinge destaque e projeção com suas matérias até o momento em que é convidado a
assumir o posto de editor do periódico.
Esse poderia ser o início de uma
promissora carreira jornalística para nosso protagonista, no entanto, é nesse
momento que o romance tem sua reviravolta. Gabriel torna-se um excelente editor
da Semana, administra uma grande
equipe, executa fechamentos irretocáveis, porém sente-se completamente
frustrado e perdido.
Inicia-se o período negro da vida de
Gabriel, que envolve-se cada vez mais com bebidas, drogas, noites mal dormidas
e uma insatisfação e ausência de sentido em seu trabalho. Quando o caminho parecia não ter mais volta,
Gabriel se atém ao seu maior desejo, escrever,
e decide demitir-se na edição da Semana
para se dedicar integralmente à redação de seu livro.
Sem emprego, vivendo apenas das economias
que seus trabalhos anteriores haviam lhe proporcionado, Gabriel enfrenta
novamente o bloqueio criativo que o angustia durante toda a narrativa. A
necessidade o obriga a dar aulas no curso de Expressão Escrita na faculdade,
convite feito pelo editor dos livros de seus amigos Monteiro e Zavala, Jaime
Estrada.
É nesse curso que Gabriel conhece
Fernanda, a primeira pessoa que Gabriel sente amar realmente e que o influencia
das mais diversas formas, transformando definitivamente sua vida.
Um livro extenso, de fácil compreensão e
leitura, que prende a atenção do leitor e nos faz imaginar, em diferentes
momentos, que o excesso de “verdade” e de detalhes nos relatos do narrador pode
se dever, em certa medida, a uma autobiografia disfarçada.
Minha opinião: recomendo.