terça-feira, 10 de abril de 2012

A Elegância do Ouriço

de Muriel Barbery
por Claudine Duarte

          A elegância do ouriço, de Muriel Barbery, não é um livro que eu compraria. Ganhei de uma prima há quase 2 anos e, apesar de suas expressivas recomendações, o exemplar ficou na prateleira do ‘talvez-algum-dia’. Agora que li, não recomendaria. (Juro que esta rima não foi proposital) Achei o livro maçante... A voz da escritora está em tudo e em todos vomitando filosofia de uma forma cansativa.
        7, Rue de Grenelle, Paris: um edifício de 6 andares com a autora morando na Portaria e acima.
          O livro é narrado, alternadamente, pela zeladora do prédio – uma cinquentona – e por uma adolescente. Descrevendo o cotidiano e, supostamente por pontos de vista paralelos, “pensamentos profundos” e “movimentos do mundo”. São poucas as cenas, excesso de seqüelas e sem trama identificável.
           A idéia da “invisibilidade” e do não se mostrar aos outros considerei um exercício de apologia à inteligência e cultura dentro de uma redoma de arrogância. A garota é a autora criança, a zeladora, a autora nos seus 50 e, não bastasse: chega o senhor Ozu como um brilhante ser masculino (também da autora) para completar a família.
          O engraçado é que a autora teve que matar o crítico de gastronomia, personagem de seu livro anterior, para dar espaço ao senhor Ozu. (Sem problemas, até porque o título traduzido é A Morte do Gourmet e parece extremamente chato também)
       No A elegância do ouriço, temos encontros ingênuos e inverossímeis entre as 3 versões da autora. Penso que se o livro se concentrasse apenas nos diários e nos pensamentos profundos talvez pudesse ficar interessante...
          A narrativa – estranha e aborrecida – privilegia cenas dispensáveis, como a da visita do jovem Arthens procurando o nome de uma flor, e passa correndo pela “catarse” de Renée ‘segurando as mãos de Paloma’. Isso, pra não falar da narração da própria morte... é necessário ser um Mestre-nas-Artes-da-Escrita pra bancar uma cena destas. E a jovem suicida que vira fofoqueira e desiste de queimar tudo para “perseguir os sempres no nunca”?
          No entanto, aprendi palavras novas: forclusão, melopéia e nimbado.... “Googlei” para ver o quadro do Pieter Claesz, ouvir o lamento de Dido e ler trechos relacionados ao texto O porco-espinho e a raposa: um ensaio sobre a visão da historia de Tolstoi, do filósofo Isaiah Berlin.
          A escritora é professora de filosofia e pode ter se inspirado naquele trabalho e na citação de um poeta grego: “A raposa sabe muitas coisas, mas o porco-espinho sabe apenas uma e grandiosa coisa”. oh, those philosophical French!*
Gostei de conhecer o ensaio e sua classificação de escritores e pensadores, ou mesmo das pessoas em Raposas e “Ouriços”. Recomendo: http://en.wikipedia.org/wiki/The_Hedgehog_and_the_Fox
 
       Para quem ainda não assistiu, vale o interessante trabalho de design que nos apresenta o trailer do livro: http://vimeo.com/37707852
      E mais, considero importante partilhar outros pontos de vista sobre o livro, existem vários bem positivos, tais como : http://peregrinacultural.wordpress.com/2008/07/08/a-elegancia-do-ourico-muriel-barbery
           Com abraços, vale ainda uma visita ao link de resenha que inclui o trailer do filme: http://queromoraremumalivraria.blogspot.com.br/2010/05/elegancia-do-ourico-trailer-do-filme.html


* da crítica do NYTimes, of course! http://www.nytimes.com/2008/09/07/books/review/James-t.html

A Elegância do Ouriço

de Muriel Barbery
Companhia das Letras- 2006

COMENTÁRIOS por Maria Virginia de Vasconcellos
Brasília, abril de 2012

Parte I
Resisti a escrever estas palavras que volteavam pela minha cabeça até ler a página 164 do livro da Muriel Barbery. Foi nessa página que me defrontei com a visão da própria autora sobre texto literário:
é para ser lido e provocar emoções no leitor” - a pergunta chave é “gostaram deste texto?”

Pois então: no meio do livro decidi começar a dizer se gostei do texto.

Já de início, notei um quê de dissertação acadêmica com dezenas de citações e menções de outros autores, artistas, filmes e personagens da literatura, num tom meio professoral. Cacoete de professora universitária, pensei com meus botões. Pode até parecer ok dissertar sobre fenomenologia, considerando que a autora lecionou filosofia. Mas, para mim foi enjoado. (Não esta buscando isso no livro). Mais enjoado ainda foi apresentar um veredicto apressado sobre Marx: me trouxe uma emoção irritante (lembrando que sou Socióloga de primeira formação).

Por outro lado, temos o senso de humor. Huumm... O humor que se pretende no texto não faz meu gênero: é mais jogo de palavras do que relatos de fatos anedóticos... Trabalha-se muito com estereótipos e imagens preconcebidas: “quem gosta de açúcar mascavo é gente de esquerda”, “cão tal é para classe social xis”, “concierge tem que ser percebida assim”... e por aí vai...

Até a página 164, portanto, as emoções que o texto me causou foram meio de ‘enjoança’, para usar um bom mineirês... um misto de ‘resistência’ à leitura associada a certa ‘preguiça’...(Consequência: quase sempre tinha vontade de voltar ao Agosto de Rubem Fonseca).

E mais ainda: não curto descrição de animais domésticos desde que saí da fazenda aos oito anos de idade. Veja bem: como não sou politicamente correta neste quesito, as muitas descrições de cachorros e gatos  não me trazem sentimentos de sonhos e emoções intrigantes. (Consequência: neste tema saltei parágrafos inteiros na leitura...)

Por último, comento o estilo: 
O feliz parêntese aberto na crueza do mundo pela camélia sobre o musgo do templo fechou-se sem esperança, e a negrura de todas essas quedas corrói meu coração amargo” (Pag. 112)
Ai! que frase mais enjoada. Diz a autora que: “Pobre de espírito quem não conhece a trama nem a beleza da língua” (pag. 170). Pois é. Eu me sinto taxada como uma pobre de espírito, mas continuo a ler.

Aspectos positivos:
Gostei mais dos “Pensamentos Profundos” e dos “Diários do Movimento do Mundo” – especialmente, quando expressam a falta de sentido da vida, a visão nihilista da existência...vindos de um personagem de apenas 12 anos. Sai do estereótipo...

Bom. Agora apareceu o OZU.
Será que a chegada do OZU, outro estereótipo acabado de japonês, oriental, rico e inteligente vai me trazer emoções novas??? É a grande expectativa.

PAUSA – Parte II
Comentário final:
Sim. A ‘pegada’ desse livro, para mim, veio com a chegada do OZU. Foi seu personagem e sua atuação que modificou a vizinhança, alterou a Sra. Michel, e a mim como leitor. Provocou a curiosidade pelo próximo capítulo. E, por último, valeu a pena o final da história que por ser imprevisto, fechou bem a narrativa. Foi um fechamento real, que encaixou com os comentários filosóficos sobre o tempo e a vida, da qual faz parte a própria morte.

Afinal o livro valeu a pena. Recomendaria, mas com restrições.