terça-feira, 19 de agosto de 2025

CADERNO PROIBIDO

 de Alba de Céspedes





por Claudine M. D. Duarte

 

 

 

Filha de uma italiana com um embaixador cubano, Alba Carla Lauritai de Céspedes y Bertini nasceu em Roma em 1911 e é considerada uma das principais romancistas europeias do século 20. Entre seus livros, são citados os romances “Ninguém volta atrás” (1935), “Dalla parte di lei” (1949) – editado aqui como “Na voz dela”-  e “A rebolona” (1967). No livro “Frantumaglia: os caminhos de uma escritora”, Elena Ferrante comenta “Caderno proibido” e atribui a influência de Alba de Céspedes em suas obras. Annie Ernaux, autora francesa vencedora do Nobel de Literatura de 2022, também colaborou para a popularidade de Céspedes, com a forte afirmação que ter acesso à sua obra "mudou a sua vida". Vale destacar que, Alba, envolvida com a pauta antifascista, fundou a revista Mercúrio, em 1944, e no pós-guerra dedicou-se a escrever para o cinema, o teatro, o rádio e a televisão. Morreu em Paris, em 1997.

 

Devemos à Camila Berta, editora da Companhia das Letras, a nova edição do Caderno Proibido aqui no Brasil. Em recente entrevista à Folha de São Paulo, Camila disse que sua relação com Alba começou na pandemia, quando ouviu uma editora alemã falar sobre a autora. Daí até encontrar uma primeira edição da obra em um sebo foram vários movimentos que pavimentaram o caminho de sua paixão pela escrita de Céspedes. Muitos países já publicaram os livros da italiana e a decisão da Companhia das Letras foi por fazer a tradução com linguagem atualizada, escolhendo manter os nomes originais dos personagens – na primeira edição brasileira, por exemplo, o marido da personagem principal e narradora, Valeria, teve seu nome, Michele, traduzido para Miguel... Para ela, o livro "furou a bolha" ao ser indicado por clubes de leitura, em 2024: "Se você pensa que o livro foi escrito há tantos anos, Alba estava muito à frente de seu tempo", afirmou Camila sobre Caderno Proibido, publicado pela primeira vez em episódios no periódico italiano La Settimana Incom Illustrata, de 1950 a 1951, após a Segunda Guerra Mundial.


Essa Itália pós-guerra se faz presente na trama criada por Céspedes: acompanhamos seis meses da vida de uma mulher de 43 anos que vive a vida que a ela foi destinada. A ela e a tantas outras. Cuida de sua casa, de seu marido, de seu filho, de sua filha, todos adultos. Valeria arruma a casa, faz a comida e, para colaborar com a vida financeira da família, ainda trabalha como auxiliar administrativa num escritório. Um dia após o outro, sem refletir, sem pensar nos tantos detalhes e por quês que impactam seu cotidiano até que, num domingo, comete a ousadia de comprar o tal caderno:


Eram cadernos pretos, luzidios, grossos, daqueles que eu levava para a escola e nos quais – antes de iniciá-los – eu logo escrevia, na primeira página, com entusiasmo, o meu nome: Valeria. “Me dê também um caderno”, eu disse, remexendo na bolsa para pegar mais dinheiro. Mas, quando ergui os olhos, percebi que o moço da tabacaria havia assumido uma expressão severa para me dizer: “Não pode, é proibido”. Ele me explicou que o fiscal ficava de guarda na porta, todo domingo, para que ali só se vendesse tabaco, nada mais. Eu era a única cliente. "Mas eu preciso", pedi novamente, “preciso mesmo.” Falei baixinho, agitada, estava disposta a insistir, a suplicar. Então ele olhou ao redor e depois, rapidamente, pegou um caderno e o deslizou sobre o balcão, dizendo: “Esconda embaixo do casaco”.

 

E como em toda caminhada de auto-conhecimento, o processo da escrita vai desafiando a personagem e aos leitores que respiram no ritmo de sua coragem e de seus ‘desatinos’. O “falar para dentro” ou o “falar de si” é um exercício solitário de construção de sua identidade, passando a criar outras visões sobre ela mesmo e de seus familiares. O registro de seu cotidiano em palavras traz questionamentos, angústias e, principalmente, luzes antes inexistentes ou inimagináveis.

 

Outra coisa me impede de confessar que escrevo, e é o remorso de perder muito tempo escrevendo. Com que frequência reclamo que faço muita coisa, que sou escrava da família, da casa; que nunca tenho a oportunidade de ler um livro, por exemplo. Tudo isso é verdade, mas em certo sentido essa escravidão se tornou também a minha força, a auréola do meu martírio (...). Devo reconhecer que a determinação com a qual me defendo de qualquer possibilidade de repousar talvez não passe de medo de perder essa única fonte de felicidade que é o cansaço.

 

Algo que chama a atenção é quando Valeria passa a questionar seu relacionamento com o marido, Michele, um homem frustrado com a própria vida e fechado em si, sem tempo ou cuidado para escutá-la e aos filhos e que a chama de “mamãe”! (?)

 

Ao reler o que escrevi ontem, acabo me perguntando se não comecei a mudar de índole a partir do dia em que meu marido, de brincadeira, passou a me chamar de ‘mamãe’. No início gostei muito, porque assim me sentia a única adulta em casa, a única que já soubesse tudo da vida. (...) Mas agora compreendo que foi um erro: ele era a única pessoa para a qual eu era Valeria.

 

O caderno, com status de personagem, proibido e desejado, como um amante na vida de Valeria que anseia os momentos em que poderá estar a sós com ele, longe da vista de todos. Como a casa é habitada pelo casal e pelos dois filhos, Mirella e Riccardo, a escrita no diário precisa ser realizada nas madrugadas ou quando Valeria fica em casa sozinha. Isso nos remete ao ensaio de Virginia Woolf (1882-1941) – Um teto todo seu (1929), em que a escritora inglesa chama a atenção para os obstáculos que impedem as mulheres de conquistarem seu espaço, literal e metaforicamente.

 

Às vezes eu precisaria ficar sozinha; nunca ousaria confessar a Michele, temendo desgostá-lo, mas sonho ter um quarto só para mim.

 

Valeria faz do caderno, um quarto somente seu. Com pensamentos francos e extremamente lúcidos, se descobre complexa e encara todos os nuances dos relacionamentos com os personagens mais próximos: a mãe, a filha, o filho, a nora, o marido, um rol de amigas indesejáveis e o chefe do escritório com quem se permite viver uma breve história de amor. Acompanha, inerte, um provável caso de seu marido com uma de suas amigas. Assiste, intranquila, as ambições da filha. Acata, impotente, a escolha do filho, recebe a nora e se prepara para a chegada de um neto. Sem acesso a soluções ingênuas, Valeria (re) vive o seu próprio momento pós-guerra:

 

Ou talvez porque qualquer um podia morrer de um momento para outro, e as coisas não tinham importância diante da vida das pessoas de carne e osso, todas iguais, todas ameaçadas: o passado não servia mais para nos defender, e não tínhamos nenhuma certeza do futuro. Sinto tudo em mim confusamente e não posso falar disso com minha mãe nem com minha filha porque nenhuma delas compreenderia. Pertencem a dois mundos diferentes: um que acabou, junto com aquele tempo, e o outro nasceu dele. E em mim esses dois mundos colidem, fazendo-me gemer. Talvez por isso que muitas vezes me sinto desprovida de consistência. Talvez eu seja somente essa passagem, essa colisão.

 

E assim, setenta anos depois, nós agradecemos por nos sentirmos essa mínima e insondável possibilidade de escuta. As palavras do Caderno Proibido reverberam dentro de cada leitor, leitora, tão fortes quanto em seu próprio tempo. Ainda há muitas Valerias no mundo, incontáveis são as necessidades de jornadas, temidas mais que proibidas... E, concordemos ou não com as decisões que Alba lhe reservou, Valeria Cossati é uma mulher de seu tempo e a força de seu diário reside no poder avassalador da escrita.

 

Agora, por trás de qualquer coisa que eu faça ou diga, existe a sombra deste caderno. Nunca poderia acreditar que tudo o que me acontece ao longo do dia merecesse ser anotado. Minha vida sempre me pareceu meio insignificante, sem acontecimentos notáveis além do casamento e do nascimento das crianças. Mas, desde que, por acaso, comecei a manter um diário, percebo que uma palavra, um tom, podem ser tão importantes, ou até mais, quanto os fatos que estamos acostumados a considerar como tais.

(...)

Mas toda experiência minha – inclusive aquela que me vem deste longo interrogar-me no caderno – me ensina que a vida inteira passa na angustiante tentativa de tirar conclusões e não conseguir. Ao menos para mim é assim: tudo me parece, ao mesmo tempo, bom e mau, justo e injusto, até mesmo caduco e eterno.

 

Recomento fortemente a leitura deste Caderno Proibido que faz da literatura um de nossos caminhos de exploração, memórias e descobertas. Fecho esse texto com as palavras de sua abertura: “Fiz mal em comprar este caderno, muito mal. Mas agora é tarde demais para lamentar, o estrago está feito.” Que bom. Sorte nossa, leitores.

 

***



segunda-feira, 18 de agosto de 2025

"Afirma Pereira" de Antonio Tabucchi

 Antonio Tabucchi (1943-2012) foi um renomado escritor, tradutor, crítico literário e acadêmico italiano, conhecido por sua vasta obra literária que explora temas como a reconstrução da identidade, a memória e a realidade. Tabucchi foi um apaixonado estudioso da literatura portuguesa, traduzindo para o italiano diversas obras de Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade e outros autores lusófonos. Sua paixão por Portugal levou-o a viver em Lisboa por longos períodos, casado com uma portuguesa.

"Afirma Pereira – um testemunho" (Sostiene Pereira: uma testimonianza, no original; Pereira Maintains/Declares, em inglês), publicado originalmente em 1994, é uma de suas obras mais aclamadas, vencedor dos Prêmios Super Campiello, Scanno e Jean Monnet de Literatura Europeia. A obra foi transformada em filme em 1995, apresentando Marcello Mastroianni em uma das suas últimas grandes interpretações. Mastroianni disse ter se apaixonado pelo personagem[1]. "Principalmente por sua transformação e pela forma quase poética como ela acontece. Ele começa a conhecer pessoas e vai descobrindo que vivia de uma forma que não era normal, à parte. Toma consciência de que vive em um mundo perigoso, mas ao descobrir o mundo ele renasce".

Há ainda uma adaptação da obra para HQ, feita pelo francês Pierre-Henry Gomont em 2016.

O jornalista Pereira é viúvo, vive sozinho e é diretor da página de cultura de um pequeno jornal, no centro velho da Lisboa de 1938. No verão quente de Lisboa, transitando entre a Rua das Saudades, a Praça da Alegria e a Rua da Liberdade, Pereira reflete sobre a morte enquanto consome limonadas e omeletes com ervas no Café Orquídea, e à noite conversa com o retrato da falecida e pensa como seria a vida se tivessem tido um filho.

Percebe que o autoritarismo do regime salazarista vai se infiltrando devagar na vida portuguesa, ouve notícias sobre a guerra civil espanhola e outros movimentos na Itália e Alemanha, mas procura não se envolver e ocupar-se da tradução de contos de seus escritores franceses preferidos.

Pereira não sabe explicar direito o motivo que o levou a contratar e sustentar um estagiário com nome italiano e uma bela namorada, que só produzia necrológios impublicáveis e sumia por longos períodos, metido com sabe-se-lá-o-quê, e que trouxeram conflitos para a sua consciência. Em encontros e conversas com Monteiro Rossi e Marta, padre Antônio, o garçom Manoel, o diretor do jornal, uma senhora judia no trem, a zeladora do prédio e o médico Dr Cardoso, Pereira vai se dando conta que há mudanças em seu mundo interior, assim como o mundo exterior muda e fica mais perigoso.

Entre irônica e melancólica, a trajetória de Pereira para abraçar seu novo ‘eu hegemônico’ é uma história de autoafirmação, que surge de um embate (ou seria uma fusão?) entre o íntimo e o político[2]. Pereira faz (ou é instado a fazer) um movimento de deixar a sua pálida zona de conforto para descobrir ou exercitar uma coragem que nem sabia que existia em si e que mobiliza uma energia vital.

O ponto de vista narrativo é uma questão central na obra: é uma narração em terceira pessoa e o narrador está registrando um depoimento do personagem. Uma alternativa de interpretação, como desdobramento do universo ficcional da história, é que Pereira está prestando esclarecimentos a alguma autoridade no exílio ou mesmo que foi capturado pelo regime salazarista e está tendo que se explicar. A alternativa que me agrada mais é a que nos induz a nota do autor no início do livro: ele, Tabucchi, está emprestando o seu ouvido e sua pena ao personagem que pediu para ser contado, solicitou que seus atos, suas motivações, suas dúvidas, sua transformação fossem registrados para que outros fiquem sabendo.

Naquela época, ele ainda não se chamava Pereira, ainda não tinha traços definidos, era algo vago, fugidio e indistinto, mas já tinha vontade de ser protagonista de um livro. Era apenas um personagem à procura de autor. [...]. Naquela noite de setembro, compreendi vagamente que uma alma, que vagava no espaço do éter, precisava de mim para se narrar, para descrever uma escolha, um tormento, uma vida.(Tabucchi)

Esse recurso narrativo produz várias passagens interessantes no texto. O narrador não sabe tudo de Pereira, só o que ele decide contar. Pereira não considera que sua infância, seus sonhos ou algumas lembranças da juventude precisem ser comentadas com o narrador, já que não guardam interesse para a história que ele quer contar. É o personagem que conduz a narrativa.

A escolha do verbo afirmar traz ambiguidades de sentido para a obra. Primeiro, além de asseverar algo, exime o narrador da responsabilidade sobre o que está sendo narrado, simulando um distanciamento entre narrador e personagem, dando objetividade à narrativa. Segundo, num sentido mais metafórico, diz respeito à tomada de posição, à necessidade de Pereira se afirmar quanto ao contexto político que vivenciava. (Vargas, S.L., 2018[3])

Outro recurso interessante que o autor emprega é a gradual construção do personagem e de seu ambiente emocional a partir de detalhes do ambiente físico: seus incômodos físicos com o calor e com seu corpo e suas obsessões alimentares (limonadas e omeletes) e atenção aos cheiros (fedor de fritura da zeladora) são bastante reiteradas no início do texto, e ao longo de suas transformações internas, vão aparecendo também de outras formas com novos elementos (limonada sem açúcar, salada de peixe,...).

Tabucchi escreveu esse livro no início do período Berlusconi. Estaria o autor também em um processo de reconstrução de identidade e o fez através do Pereira? Na Itália, durante a campanha eleitoral, a oposição contra o polêmico magnata da comunicação (??!!) agregou-se em torno deste livro. O protagonista desse romance tornou-se um símbolo da defesa da liberdade de informação para os adversários políticos de todos os regimes antidemocráticos. Memórias, testemunho de um ser ficcional, mas que é também canal de expressão de uma confederação de almas que lidaram e ainda vão lidar com sociedades autoritárias. A atualidade da obra é incontestável, afirmamos nós.

 "As dúvidas são como manchas na camisa lavadas branco. A tarefa de cada escritor e de cada homem de letras é instalar dúvidas para a perfeição, porque perfeição gera ideologias, ditadores e ideias totalitárias. Democracia não é um estado de perfeição". (Tabucchi, 1999)

 

Entrevista 2002

https://anabelamotaribeiro.pt/antonio-tabucchi-57601

"Há uma coisa que aparece sublinearmente em todos os livros, e no «Afirma Pereira» chama-se «Confederação das Almas», que vai ao encontro desse ser plural. A «Confederação das Almas», elaborada pelos chamados Médicos Filósofos, implica vários eus e um eu hegemónico numa determinada altura da vida. Esta descoberta, que encaixa também no arquétipo do Pessoa, é anterior a Pessoa para si?

·       Essa sugestão vem antes do conhecimento do Pessoa. Vem, sobretudo, com o Pirandello. Quando descobri o Pirandello, vírgula, sem o descobrir, vírgula, foi no liceu. Era uma leitura obrigatória. Mas logo a seguir, no intervalo que tive entre o liceu e a universidade, senti o desejo e a curiosidade de descobrir certas coisas e de reler certos autores, entre os quais o Pirandello. A partir daí as descobertas foram por analogias. Foram as leituras de uma analogia que me parece muito importante no século XX na literatura, na filosofia, na psicologia: a psicanálise. A descoberta que a alma cristã, que é o arquétipo, não é una e indivisível, mas que o homem tem dentro de si quase um exército que constitui nesta multiplicidade uma especificidade e unidade que é aquela pessoa. Isto passa-se com o Pirandello, com o Pessoa, com o Unamuno, com o Freud, enfim, com uma grande parte da grande literatura do século XX."

 

Entrevista 2006:

http://www.publico.pt/Cultura/este-foi-o-livro-que-me-custou-mais-escrever---1539336?all=1

Andei sobretudo a pensar numa coisa que me interessava e interessa muitíssimo: a voz. A voz humana. O conflito, simbólico, entre a voz e a escrita.

No livro, contraria a ideia feita de que às palavras, leva-as o vento. Pelo contrário, diz: “verba manent”, as palavras ficam…

 "Eu queria escrever um livro em que o estatuto da voz fosse maior do que o estatuto da escrita. A voz é um fundamento da nossa civilização ocidental. Ela gozou sempre de um estatuto mais importante do que a escrita. A civilização ocidental nasce com essa visão da voz fecundante, criadora. “Ao princípio era o verbo.” O mais antigo dos mitos gregos, o mito órfico, atribui um poder à voz que nunca foi atribuído à escrita. Orfeu canta. E quando ele canta, diz o mito, as árvores inclinam-se e as feras amansam. Graças à potência da voz, ele pode sossegar, tranquilizar, convencer os monstros dos infernos e recuperar o cadáver. A ideia da ressurreição é atribuída ao poder da voz, nunca ao da escrita. Os que escrevem, são os escribas. Cristo não tinha bibliotecas, dizia Fernando Pessoa…Cristo não escreve. Cristo fala, são os outros que escrevem. E aí há esta pequena arrogância de Tristano, que diz ao escritor: tu és o escriba, eu sou a voz. Por que é que a voz é mais importante? Porque é orgânica, biológica. A escrita não é biológica, é mineral.

Mas é através da escrita que a voz permanece. Diz-se que, mais do que as palavras, contam os nossos actos. Ao privilegiar a voz do protagonista, dá-se-lhe a possibilidade de ele compor a vida à maneira que mais lhe convém, reescrevendo a história. Qual será a versão mais verdadeira?

Eu pus em exórdio o verso de Paulo Celan: “Quem testemunha pela testemunha?” O jogo poderia ser este: há uma voz que fala; um ouvido e um escritor que transcreve, à sua maneira, com as suas palavras (e escrever com as suas palavras já significa modificar); o qual passa a um terceiro, que sou eu, com o meu nome escrito aqui [no frontispício do livro], que escrevo verdadeiramente. Neste trânsito da verdade, há o facto de que, se calhar, a verdade é múltipla."

 



[1] https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/11/23/ilustrada/18.html

[2]  Camassa, J. B. de O. (2017). Romance de uma (auto)afirmação: o íntimo e o político em Afirma Pereira, de Antonio Tabucchi. Primeiros Escritos8(1), 217-227. https://doi.org/10.11606/issn.2594-5920.primeirosestudos.2017.136817

[3] VARGAS, S. L. . Pós-modernismo e identidade em Afirma Pereira, de Antônio Tabucchi. Revista Letras Raras, Campina Grande, v. 7, n. 1, p. 58–74, 2023. Disponível em: https://revistas.editora.ufcg.edu.br/index.php/RLR/article/view/1561. Acesso em: 16 fev. 2025.