Porque não recomendo a leitura desse livro?
(Não se trata de resenha nem de
descrição da história)
por Maria Virginia Barbosa
de Vasconcellos em 14 de março de 2018
Autora: Margaret Atwood
Título original: The Handmais´s Tale
Tradução: Ana Deiró , Editora Rocco , 2017
Até meados do livro,
a falta desejos de comentar sobre o texto era total, mostrando que a história
não me mobilizava, não me inquietava e nem fornecia munição para a vida.
Por mais que visse
qualidades na narrativa, bons diálogos, imaginação fértil da autora na criação
de uma distopia verossímel, com alguns aspectos passíveis de serem associados
com alguns momentos da realidade histórica da humanidade, não fui atraída pelo
texto.
Tudo me pareceu
maçante, “custoso” no linguajar do mineiro, e até “marrento” para utilizar uma
gíria expressiva. Muita descrição de minúcias, tanto físicas quanto mentais,
idas e vindas pelos dois mundos (anterior e contemporâneo da narrativa), vários
contos sórdidos agregados se superpondo, sempre do ponto de vista da AIA. Ela não se cansa de divagar, de pensar,
porém, sim, cansa o leitor com tantas palavras.
Saudades de Machado
de Assis que conversa com o leitor e pede sua paciência, e avisa que está
prestes a chegar ao desfecho do Capítulo. Neste texto da Atwood, o desfecho
parece não chegar nunca... e até as suas “conversas” com o leitor são apenas para
dizer que a versão anteriormente contada não é a verdadeira, e ela passa a dar
novas versões de histórias ocorridas... , exigindo do leitor ainda mais
paciência.
Porém, como disse o
Antonio Prata (articulista da Folha de S.Paulo), nada como “As águas cristalinas que brotam no lamaçal da
embriaguês”. Ou seja, após algumas
taças de um bom vinho, passo a pensar no Orwell (1984) e no Huxley (Admirável
mundo novo) e, assim, volto ao CONTO
DA AIA, com um olhar mais complacente.
Concluo que pelo
menos dois fatos podem ser ressaltados nesta “ficção sociológica” que merecem
uma reflexão de importância para o meu porvir:
(1)
O primeiro diz
respeito à anulação da comunicação interpessoal livre, quebrando o
desenvolvimento das técnicas e tecnologias até então existentes: a Televisão é
controlada, a telefonia é controlada, e nesta sociedade não se vislumbra
futuras inovações de desenvolvimentos informáticos.
Pergunta que não
quer calar – Não fora o livro escrito em 1985, melhor dizendo, se escrito hoje,
quando os humanos somos fixados na Internet, seria possível uma narrativa
assim, teria a autora imaginado uma sociedade assim?
(2)
O segundo ponto é
a permanência inquebrantável do desejo pessoal, do desejo antes de tudo sexual,
como motor do comportamento divergente, no sentido sociológico, como motor de
comportamentos de trangressão: desobediência aas ordens e normas
político-sociais estruturantes, que regiam esta sociedade imaginada.
Essa consideração
vem confirmar as teorias psico-sociais sobre a natureza humana. E, ao meu ver, no
texto foi representado principalmente pelo comportamento de “Nick e da AIA”,
que pode ter sido o mais interessante na novela.
Mas, afinal, a
autora na pag 315, Capítulo Quarenta e Um, afirma:
“Eu gostaria que esta história fosse
diferente. .... Gostaria que me mostrasse sob uma luz melhor..., menos
hesitante, menos distraída por trivialidades. Gostaria que tivesse mais forma.
“
Como leitora,
responderia que também eu gostaria de uma história diferente, com mais formato
e mais atraente....que se alongasse menos nos tempos de passividade dos
personagens.
A partir da página
316, a autora começa a mencionar a
relação de Nick com a Aia e suas consequências, dando mais vida à narrativa....
mas, já estamos no final do livro. Pouco mais a relatar e fim de papo.
Poderá ser uma história
apropriada para uma séria televisiva. Isso sim. A temática do feminismo, do
tratamento dado aas mulheres nesta novela pode chamar atenção. Porém, não me
trouxe pensamentos novos, ou aprendizado histórico-social, ou luzes e emoções
impactantes que impressionassem e valessem a pena contar para amigos.
Por essas razões e
pelo texto cansativo, não recomendo a leitura.
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