de François Mauriac
Comentários de Carlos Guido Azevedo
Registro uma sensação profunda de incompetência que esse
livro me causou. Não sei se foi o momento que ele me chegou às mãos, se foi o
desejo de ler em francês, ou o estado de espírito em que o li.
Sei apenas que me causou um profundo desconforto, dificuldade
mesmo de compreender os personagens e suas complexidades, acho que fui
desafiado pela linguagem e pela língua e constatei que realmente não sei
francês para ousar ler um livro de Mauriac.
Mas minha surpresa foi que, quando passei a ler de forma
alternada, também em português, voltei a ter a mesma sensação, também não sei
português suficiente para uma interpretação escorreita desse autor e, humilhado
por saber quem o traduzira não pude nem usar o termo “traductore, traidore”.
Sabe aquela sensação de desamparo quando se navega contra a
maré, querendo gostar da Therese e detestando a desde as primeiras páginas.
Sentindo aquela sensação de reserva e frustração quando não consegue sintonia
com o personagem principal e acaba achando os outros vilões muito melhores que
a heroína.
Sei o quanto é difícil justificar o comportamento do pai de
Therese no esforço vão de coloca-la na normalidade da vida rural francesa,
quando se sabe que ela tem potencial para uma vida na cidade grande, assim,
todos os personagens que contracenam com ela são descritos em suas mais
medíocres posições, valores e comportamentos mesquinhos, não tenhamos dúvidas.
Mas, Therese é uma assassina em potencial. Tentou matar o
marido, sem qualquer justificativa plausível e foi inocentada por ele, mas não
perdoada.
Therese é uma psicopata capaz de destruir quem quer que que
desfrute de sua intimidade? Essa foi a minha sensação inicial e que persistiu
por toda a leitura. A falsa explicação que ela dá para a aquisição dos venenos
é tão esdrúxula que o pai logo recomenda, “Inventa outra desculpa!”.
As relações de Therese são obsessivas e dominadoras, quase
consumistas, ela anseia o interior das pessoas, de Ana quer saber todos os seus
pensamentos e sentimentos ao ponto de recuar e se defender: “Todo dia não
Therese!”
As suas percepções sobre o João Azevedo e seu sentimento de
perda quando Ana se apaixona por ela