Uma escrita poética de uma amargura patente. Um professor admirador de Nietzche ou de seu linguajar que não consegue sentir aquilo que não sabe descrever, desenvolver seu alter ego num pseudo caderno de despedida para a filha recém-nascida.
No texto o egoísmo paterno chega às raias da loucura ao quere transferir para a filha à guisa de sentimentos profundos, a sua própria desilusão com a vida e com seus insucessos e dos seus familiares, cobrando-lhe a dor e o sofrimento da mãe em seu parto e registrando os principais traços deteriorados da sua família, como a antecipar as dificuldades e as incompreensões que ela irá passar à medida que amadureça.
Descreve as emoções e os sofrimentos de sua própria vida, alertando para que ela viva por dois as dores de sua própria vida, por ela e pelos ausentes, numa projeção absolutamente incabível.
A filha, pobre Bia, iria odiar esses cadernos centrados no eu de um pai sem emoção, mas com muitas opiniões sobre tudo. Um pai que se acha capaz de construir, moldar e influenciar a percepção da filha a partir dos próprios sentimentos descritos em linguagem quase cifrada.
Uma escrita adulta e sofrida de um pai incapaz de sentir a emoção e transmitir na vivência de sua família, enquanto ser presente no seu próprio tempo e, quer substituir a vivência por uma mensagem póstuma que demonstre seus sentimentos e ateste o seu amor paterno encabulado.
Normalmente, busco uma simbiose com o autor, procuro viver os sentimentos que ele expressa para usufruir melhor da emoção que o autor constrói a cada página. Nesse livro, tinha tido para acontecer essa interação, mas, aparentemente o estilo à “Assim falou Zaratrusta” me colocou na defensiva, da primeira à última página.
Detestei o livro. Se fosse poesia e se ele tivesse gerado outra expectativa seria muito capaz de atrair simpatia e a empatia necessária para a sua aceitação, mas o estilo empolado para dizer trivialidades com aparência de coisas profundas. Até as frases bonitas e bem cuidadas, e são muitas, geraram antipatia.
Finalmente, quando ele mata a pobre mãe de Bia, para construir o ápice de sua estória, até esse momento parece falsamente construído, além de injusto. Melhor que ele tivesse ido para o lado definitivo, como ele mesmo expressa. No meu entender, melhor que tivesse ido antes de escrever tamanha carta de despedida para a pobre Bia.
Não Gostei. Não Recomendo.