de Ken Follet
por Ana Luiza Machado
O Buraco da Agulha ganhou o prêmio Edgar Award em 1979, maior prêmio da
literatura de suspense e mistério. Interessante frisar que este ramo da
literatura ocupa uma posição marginal e pouco reconhecida no mundo literário.
Embora isso não fustigue o quase certo sucesso editorial de obras desse gênero.
A trama se desenvolve no contexto da Segunda Guerra Mundial,
centralizando-se na figura do exímio espião alemão, Die Nadel (A Agulha) que se
encontra infiltrado em solo inglês com a missão de obter o máximo de
informações para o governo nazista.
O livro é dividido em 4 partes e um capítulo final de alta carga
dramática e suspense. Os capítulos são muito bem delimitados e as histórias de
cada um dos personagens seguem paralelamente. Outra característica da obra são
as indicações históricas reais, recurso
que acentua a carga dramática do texto e nos leva a indagar “quantos
espiões como este existiram de verdade?”. Os personagens principais são Henri
Faber (nome falso utilizado pelo espião alemão Die Nadel); Percival Goldman, estudioso da idade
média que se torna colaborador da MI5
(serviço de inteligência britânico); Lucy, inglesa casada com um militar inglês,
frustada pela indiferença do marido e aprisionada pelos caprichos e frustrações
dele em uma ilha escocesa.
O espião alemão Henry Faber se apresenta como um pacato burocrata nas
primeiras cenas. No desencadear da trama, sua verdadeira identidade é
revelada. Toda a trama se desenvolve por
meio de informações obtidas por esse aparente burocrata. Objetivando evitar o
vazamento de informações estratégicas, a polícia britânica recruta o
historiador Percival Goldman, para auxiliar nos serviços de contra espionagem.
Com estes personagens envoltos pela Segunda Guerra Mundial, Follet nos
conduz à uma caçada emocionante, que surpreendentemente tem seu desfecho
ambientado na isolada Ilha das Tormentas, na Escócia, com o casal Lucy e o
militar.
Considero o livro um roteiro pronto, apesar de não saber com precisão se
se isso desqualifica ou enaltece a obra. Inevitável não mencionar que esta
aparente aspiração cinematográfica concretizou-se em 1981 sob a direção de
Richard Marquand (Star Wars Episode VI).
O personagem de Henry Faber é aquele que mais se revela na obra, é
possível saber um pouco de sua história e como ele construiu uma carreira na
espionagem. Percival Goldman também desperta interesse, exercendo um papel
decisivo nas caçada ao espião, no entanto a forma pouco crível de seu aceite
para trabalhar na MI5, compromete um pouco o personagem. Lucy poderia ser um
destaque, mas, a despeito de ser uma heroína, ela não comove. A única conexão
que tive com a personagem foi no momento em que ela se resigna com a condição
imposta pelo marido (isolamento na ilha e frieza no casamento).
O desfecho poderia nos reservar surpresa melhor considerando que a
heroína da trama foi uma mulher. No entanto, o autor prefere nos brindar com um
lugar comum que ficaria muito bem em um novela das oito.
Recomendo o livro com reservas, a título de puro entretenimento.
Acredito que não há nenhum traço no trabalho que faça distinção da obra
entre qualquer outro livro ou filme de
suspense no contexto da Segunda Guerra Mundial. Nenhum dos personagens é
marcante ou valioso o suficiente para proporcionar um brilho especial à obra. É
mais uma das 6 milhões de histórias possíveis da era Hitler, e nem é das
melhores.
***