de Lars Kepler
por Ana Studart
“ O Hipnotista” é um livro policial, de suspense e ação, que aborda a questão controvertida da hipnose e seus efeitos.
O livro relata de início uma história que parece ser central, o crime na família José Elk, para depois desenvolver uma história paralela, igualmente importante, mas independente: o sequestro de Benjamim. O que interliga os dois enredos são os personagens principais: Joona e Erik.
É um livro com várias tramas de segundo plano e muitos personagens, o que obriga o leitor a voltar páginas para poder identificá-los. Alguns desses personagens poderiam ter sido eliminados, sem prejuizo algum para o livro- muito pelo contrário. Fica, inclusive, difícil de avaliar consistência da narrativa, tal a quantidade de personagens e detalhes.
"O Hipnotista" apresenta personagens densos, de certa forma exagerados, na medida certa para as séries policiais televisivas atuais- e é possível que se transforme mesmo numa.
Apreciei os capítulos curtos- como a trama é por vezes confusa, facilita a leitura. O único capítulo longo, que relembra o grupo experimental de hipnose, destoa do conjunto.
Alguns capítulos adotam a fórmula de prender o leitor deixando uma pergunta intrigante ao final, outros prosseguem a narrativa do capítulo anterior- o que não justificaria a divisão do texto. Por ter sido escrito a quatro mãos, uma pergunta se impõe: qual a divisão para a elaboração do texto? Cada autor escolheu seus personagens e os desenvolveu? Ou cada um adotou uma das duas tramas conjugadas do livro para produzir? É possível que a grande quantidade de personagens, fatos e as tramas paralelas, que muitas vezes confundem o leitor, seja devida a esse fato?
Quanto à construção dos personagens principais:
- Joona é um personagem consistente e equilibrado. Sério, eficiente, é um teimoso sempre certo em suas deduções.
- Erik, apesar de ter sua personalidade construída com coerência ao longo do livro, é um personagem cansativo, sempre ingerindo uma quantidade aflitiva de pílulas. Um psiquiatra desequilibrado, impulsivo, e imaturo
- Simone é uma figura cansativa, quase histérica. Permanece casada com o marido que a traiu dez anos antes, sem perdoá-lo. Acusa Erik na relação com o filho, mas quem cuida dele primorosamente é o pai
- O personagem mais agradável é o pai de Simone, Kennet, policial aposentado. Ele trouxe coerência à busca do neto, para alívio dos leitores. E deu mais consistência à história, embora sua participação no enredo aconteça mais perto do desfecho.
- Josef Elk nâo convence totalmente como personagem. Sua agressividade, maldade e força física não combinam com a franzinice descrita. Os ferimentos que produziu em si mesmo não ficam bem esclarecidos no livro. Mas a fixaçāo dele na irmã é bem construída, com boa montagem da trama entre os dois
-Eva Blau tem uma personalidade bem consistente. Sua paranóia, taras e sexualidade são superlatives
- Lydia é também uma figura densa. Dominadora, é a personagem mais perturbadora e assustadora do livro.
Quanto à apresentação, a capa de “ O Hpnotista” é perfeita, por definir a tesoura ( que no enredo cortará narinas) como central para a trama.
“O Hipnotista” é um livro para ser lido com tempo e atenção. Não se anseia por chegar ao final- eu o li com interesse, mas sem curiosidade que se traduzisse em pressa na leitura. Mas é um bom policial- em nenhuma das duas histórias foi possível adivinhar o desfecho. O suspense é garantido.
A narrativa começa num ritmo lento e ao final se apressa para o desfecho, deixando situações mal explicadas. (Como uma criança doente, fragilizada, mal nutrida e enregelada, seria capaz de resgatar o pai num lago congelado? Ou fazer funcionar o motor de um ônibus sucateado e desativado em pleno inverno?). Faltou aos autores cuidado com a credibilidade, em certas passagens.
Em resumo: é uma história policial muito densa. Criativa, na sua brutalidade. Deixa alguns detalhes sem explicação plausível. Prende o leitor, mas não o suficiente para se devorar rapidamente o livro. Tem personagens e fatos que seriam dispensáveis, que dificultam a leitura e confundem, mas por outro lado, tem figuras muito fortes e bem construídas.
De um a dez, daria uma nota 7 ao “ O Hipnotista”.
Por Ana Studart